Quadrantes por Francisco Fernandes - Santos Populares em junho. Festas cristãs ou pagãs?

Eixos de Opinião de junho de 2018

Título: Santos Populares em junho. Festas cristãs ou pagãs?

Durante todo o mês de junho celebram-se os chamados santos populares, com festas e arraias por todo o país nas noites de S. António, S. João e S. Pedro.

Se tal como na maioria dos santos, a festa de S. António se celebra no dia do seu falecimento, relativamente a S. Pedro, o primeiro papa, e a S. João Baptista, tal associação torna-se difícil de realizar.

Desconhecemos a data exata do falecimento de S. Pedro, se o ano se torna difícil de conhecer (entre 64 a 67 d.C.), o dia ainda mais dificuldades nos traz.

Só sabemos que foi a partir do século III ou IV que o dia de S. Pedro se passou a celebrar a 29 de junho, tal como o dia de S. Paulo.

Estas foram, depois de Jesus Cristo, as duas principais figuras do Cristianismo e por isso houve necessidade de celebrar os seus dias naquela que era uma principais festas pagãs de Roma, o dia de Rómulo e Remo, fundadores míticos da cidade de Roma.

Assim, quem melhor do que S. Pedro e S. Paulo para substituir os irmãos que após terem sido alimentados por uma loba, fundaram a cidade de Roma, tornando-se assim este dia de festa uma das celebrações mais antigas do cristianismo, mais antiga do que o próprio Natal.

Já no caso de S. João Baptista, aqui as datas de nascimento e falecimento tornam-se ainda mais difíceis de conhecer.

A historiografia indicam que S. João terá nascido no ano 2 ou 1 a.C. sendo assim primo em segundo grau de Jesus Cristo. Suas mães, Isabel e Maria, eram primas direitas. A sua morte terá ocorrido em 26 d.C. a 29 de agosto.

A sua importância na igreja cristã é tal, que ele é celebrado em 2 dias, o da sua morte e 29 de agosto, e a 24 de junho, dia do nascimento, seis meses antes do nascimento do seu primo Jesus Cristo, tal como é dito no evangelho de Lucas.

Mas porquê é que a Igreja teve necessidade de associar o 24 de junho como data de celebração do nascimento de S. João Baptista, sabendo que é difícil de comprovar com exatidão esse acontecimento.

Não será estranho que é essa data coincide com o solstício de verão no hemisfério norte, não o atual, mas aquele que era considerado a data do solstício de verão durante o império romano, no calendário juliano.

Também não é estranho que a entrada do verão sempre foi celebrado na Europa, mesmo antes do cristianismo, com grandes festividades, acendendo grande fogueiras, entoando cânticos, dançando e pulando, com a alegria a reinar entro todos, celebrando a vida e as colheitas que se iniciavam, umas festividades que ficaram conhecidas como “midsommar” ou festas juninas.

De festas pagãs celebradas um pouco por toda a Europa antes mesmo do Cristianismo, com fogueiras para afastar maus espíritos ou queimar bruxas, época de apanhar de ervas para curar doenças, época de rituais para as donzelas que procuram pretendentes e fertilidade, todas estas festividades pagãs foram sendo substituídas por festas cristãs, e quem melhor do que S. João Baptista e S. Pedro para ocuparem esse lugar.

Contudo, mesmo sendo agora festas cristãs, os seus princípios e significados não foram substituídos, mas sim misturadas as tradições cristãs com as tradições derivadas das festividades pagãs.

Quem nunca saltou a fogueira no S. João, ou cheirou um manjerico ou foi expurgado com um alho porro, ou então procurou noiva ou noivo naquele que no Porto é considerada a noite mais longa do ano, uma festividade que é de longe a festa mais democrática e de maior alegria em todo o país.

Publicado/editado: 28/06/2018