Se e Só Se por José Carlos Pereira - Exame, Rankings e o Fim

Eixos de Opinião de Julho de 2020

José Carlos Pereira - Professor de Matemática. Autor de Livros Escolares. Responsável pelo Site Recursos para Matemática.(Ler +).


Título: Exame, Rankings o e Fim

1. O Exame Nacional de Matemática A

Em Novembro último escrevi um texto sobre as informações que conhecíamos até aquela data sobre o Exame Nacional de Matemática A. Na altura a única informação que ainda não era conhecida estava relacionada com a forma como a calculadora poderia ser usada. Passado algum tempo ficámos a saber que os examinados poderiam usar, sem qualquer restrição, todas as capacidades desta ferramenta.

Mas depois veio o tema do momento e o que era claro deixou de o ser. Seguiram-se três meses de incerteza até ser publicado, há cerca de um mês, o documento com as devidas adendas à Informação Prova que tinha sido publicada uns meses antes. 

Ficámos então a saber que a prova terá dezoito itens dos quais quatro são obrigatórios, isto é, quatro itens cujas classificações das respostas serão obrigatoriamente contabilizadas na classificação final. Das restantes catorze, só as oito melhores respostas contribuirão para a classificação final. Os itens obrigatórios valerão 72 pontos (16 + 20 + 16 + 20) e cada um dos restantes catorze itens valerá 16 pontos. 

Um exemplo. Se um aluno tiver 16 + 12 + 8 + 10 nos itens obrigatórios e a classificação dos restantes catorze for:

16 + 0 + 0 + 10 + 11 + 0 + 0 + 16 + 16 + 12 + 2 + 1 + 10 + 1

a sua classificação final será 16 + 12 + 8 + 10 + 16 + 10 + 11 + 16 + 16 + 12 + 2 + 10 = 139 pontos. 

Com esta distribuição da pontuação cada item de escolha múltipla (EM) valerá 16 pontos, o dobro dos habituais 8. Esta informação levou-me a pensar que o número de escolhas múltiplas seria reduzido para um número entre quatro e seis. No entanto, depois de algumas conversas com colegas fiquei convencido que seriam as oito, como nas provas de anos anteriores. O argumento era o de que esta nova informação era apenas uma adenda ao que já tinha sido publicado em Outubro e que, portanto, não anulava essa primeira informação que apontava para as oito. Fazia todo o sentido e fiquei então convencido que seria mesmo assim. Uns dias mais tarde, um outro colega, confirmou com o IAVE que esclareceu que seriam mesmo oito itens de EM, dissipando assim qualquer dúvida que pudesse persistir. 

Resta então saber onde irão estar esses oito itens, mais precisamente se algum será obrigatório, ou não. Neste momento a minha expectativa é que nenhum seja obrigatório e o meu argumento é simples. Se algum dos itens de EM o for, qualquer distracção implica menos 16 pontos na prova, o que, em meu entender, seria injusto. Nos anos anteriores, uma distracção numa EM implicava um corte de 8 pontos, o que significava, por exemplo, um 200 passar para 192, isto é, 19 valores ou um 103 passar para 95, isto é 10 valores. A mesma distracção implica neste ano que o mesmo 200 passe para 184, isto é 18 valores e o 103 passe para 87, isto é 9 valores. Parece-me uma flagrante injustiça e é por isso que estou convencido que nenhum dos itens de EM será obrigatório. Contudo, isto é apenas uma intuição minha e como diria um famoso jogador de futebol “prognósticos só no fim do jogo”!

Para os alunos que estão neste momento a estudar para o Exame, deixo dois links: o primeiro, aqui, para uma pasta na minha drive onde encontrarão muitas provas modelo, todas resolvidas; e o segundo, aqui, para uma publicação no Facebook onde podem encontrar todas as informações sobre as Aulas Abertas de Preparação para o Exame Nacional de Matemática A que estou a dar para quem quiser assistir. 

2. Os Rankings

Todos os anos, quando a comunicação social anuncia com toda a pompa os rankings das escolas, faço sempre uma pequena publicação no Facebook a anunciar, também com toda a pompa, o primeiro lugar da minha Sala de Estudo no restrito grupo das Salas de Estudo que ficam no prédio onde está instalada a minha Sala de Estudo. Faço-o tentando que a publicação exponha o ridículo que é a tentativa de estabelecer um qualquer Ranking de Escolas. Não sei se o consigo.

Compreendo que a comunicação social anuncie com a tal pompa o "Ranking das Escolas", afinal tiveram algum trabalho a ordenar os dados em bruto que são disponibilizados pela tutela. Acho graça como o fazem, sempre da mesma forma, qualquer coisa como:

"Já se conhece o Ranking das Escolas deste ano e nas 50 primeiras só há X públicas"

X é invariavelmente um número relativamente pequeno, 10, 11, 15…

Simplesmente não se pode comparar o que é incomparável. Não se podem comparar escolas, públicas ou privadas, com ambientes sócio-económicos completamente díspares. Não se podem comparar colégios em que cada aluno paga uma mensalidade de meio milhar de euros e que lhes oferece as melhores condições de estudo, com escolas onde uma boa parte dos alunos só lá vai para poder ter uma refeição completa por dia. Não se podem comparar escolas em que os alunos que as frequentam têm acesso facilitado à cultura, viagens ou explicações (muitas vezes a quase todas as disciplinas), com escolas em que os alunos não têm, nem de perto nem de longe, acesso a todos esses privilégios.
Simplesmente não há comparação possível. Insistir em fazê-lo parece-me ser uma desonestidade.

Todavia, quero deixar claro que não estou com isto a dizer que os meus colegas que leccionam nas escolas que estão posicionadas nas primeiras posições dos rankings não têm mérito e que os seus alunos não trabalham para merecer a posição que ocupam. Nada disso. Conheço pessoalmente alguns colegas que leccionam nessas escolas e atesto o empenho, a competência e a dedicação que colocam no seu trabalho. Merecem todo o meu respeito e admiração. No entanto, há também outros colegas, que fazem o seu trabalho com o mesmo empenho, a mesma dedicação e a mesma competência, só não têm as mesmas condições de trabalho! Comparar o que é incomparável parece-me profundamente injusto.

É por isto que não gosto de rankings, e muito menos divulgados numa altura em que tantos e tantos alunos e professores, sem terem as melhores condições, deram tudo para que as aprendizagens continuassem a acontecer.

Se isto fosse um manifesto escreveria:

ABAIXO OS RANKINGS, ABAIXO A DESONESTIDADE DE COMPARAR O QUE É INCOMPARÁVEL.

3. O Fim

Há uns dias terminou o ano lectivo mais difícil, desafiante e desgastante de que tenho memória. Neste último Se e Só Se antes das férias quero deixar o meu reconhecimento pelo esforço, por vezes hercúleo, de todos os funcionários das escolas, professores e alunos ao longo destes meses para que o Ensino à Distância, com todas as suas dificuldades inerentes, pudesse acontecer. Em particular, aos meus colegas professores, que de um momento para o outro se viram afastados da sua sala de aula – e só quem é professor sabe o quanto isto custa –, mas que não viraram a cara à luta nem as costas aos seus alunos, para que as aprendizagens continuassem, com mais ou menos dificuldades. A todos, o meu profundo agradecimento. 

Até Setembro.

Publicado/editado: 03/07/2020