Se e Só Se por José Carlos Pereira - Sobre o Exame de 2020

Eixos de Opinião de Novembro de 2019

José Carlos Pereira - Professor de Matemática. Autor de Livros Escolares. Responsável pelo Site Recursos para Matemática.(Ler +).


Título: Sobre o Exame de 2020

Há dias foi divulgado o documento com a Informação-Prova (IP) sobre o Exame Nacional de Matemática A de 2020. Este documento era esperado com alguma ansiedade, uma vez que depois da Carta de Solicitação ao IAVE, de Novembro do ano passado, já se sabia que necessariamente teria de haver alterações nos conteúdos abrangidos e também na própria estrutura da prova, nomeadamente com a eliminação dos itens em alternativa. 

De facto este documento veio confirmar o que de certa forma já tínhamos assumido como inevitável. Os itens em alternativa não aparecerão na prova do Exame de 2020, que terá como referencial a intersecção dos vários documentos curriculares, Programa e Metas Curriculares do Ensino Secundário (PMC2015), Orientações de Gestão Curricular para o PMC2015 e Aprendizagens Essenciais (AE), o que na prática se reduzirá a pouco menos do que os conteúdos presentes nas AE. Quer isto dizer que no Exame de 2020 não serão objecto de avaliação conteúdos como:

▪ Indução matemática;

▪ Teoremas de comparação e enquadramento para sucessões e funções e teoremas de Weierstrass e de Lagrange;

▪ Leis dos senos e dos co-senos, funções trigonométricas inversas, inequações trigonométricas;

▪ Osciladores harmónicos;

▪ Modelos exponenciais como solução de equações diferenciais;

▪ Teorema das probabilidades totais;

▪ Elipse, sistemas de equações paramétricas de rectas e planos e equações vectoriais de planos;

▪ Interpretação cinemática da segunda derivada de uma função posição (aceleração média e aceleração);

▪ Primitivas e integrais.

etc…

Lógica é um tema transversal nas AE pelo que também não aparecerá directamente na prova, e neste aspecto não haverá qualquer alteração em relação ao que se passou nos anos que estão para trás. Destaco a indicação clara de que o tema Estatística também não será um dos conteúdos da prova, mas com uma nuance. O que está escrito no documento é o seguinte:

 “O tema «Estatística» ainda não será objecto de avaliação nesta prova.”

Aquele “ainda”, que eu coloquei a negrito, faz suspeitar que no ano de 2021 este tema será um dos conteúdos do Exame, algo que até aqui nunca ocorreu. 

Um apontamento para os acontecimentos independentes. Tanto no PMC2015 como nas AE são um dos conteúdos a abordar. Contudo, nas OGCpmc este conteúdo é facultativo, pelo que, dado que o referencial da prova é a intersecção destes três documentos, e tendo em conta que haverá alunos que não irão ter contacto com ele, é de esperar, com um grau de certeza elevado, que este também não seja objecto de avaliação. No entanto, dada a importância dos acontecimentos independentes no estudo da probabilidade condicionada, é um tema que deveria ser sempre leccionado. Dessa forma também ficaríamos “protegidos” relativamente a uma possível má interpretação daquilo que está escrito na IP.  

É importante referir, para que fique claro, que todos os conteúdos presentes no PMC2015 podem ser utilizados na resolução de qualquer item da prova, mesmo aqueles que se sabe não saírem. Por exemplo, um aluno pode usar a lei dos senos ou a dos co-senos para resolver um problema de trigonometria, ou pode usar um teorema de comparação ou de enquadramento para determinar o valor de um limite. Dependerá sempre da forma como o examinando abordar determinado problema e do que ele considerar mais vantajoso para utilizar na sua resolução. 

Se em termos de conteúdos não houve grande surpresa em relação ao que se esperava, estruturalmente há novidades que não se esperavam, pelo menos eu não esperava! A prova terá apenas uma versão, continuará a ter oito itens de escolha múltipla e, no máximo, doze de resposta aberta. A grande alteração é nos cadernos, que passam de dois para um, o que significa que os alunos voltarão a poder usar a calculadora gráfica em toda a prova. Esta é uma alteração importante, significativa e positiva, mesmo que no documento esteja escrito:

“A calculadora será usada de acordo com o que vier a ser definido em ofício emanado da Direcção-Geral de Educação.”

Não sei exactamente o que isto significa, mas é possível que a utilização da calculadora venha a ser usada nos mesmos moldes que é usada no Exame de Física e Química, isto é, em Modo Exame. Ainda que esta seja uma hipótese, há alguns factores a ter em conta antes de a tornar uma realidade, nomeadamente, a inevitabilidade de haver alunos que ainda não tenham uma calculadora com Modo Exame – até aqui ter a calculadora em Modo Exame não era uma exigência no Exame de Matemática A. Vamos esperar por mais informações que, no caso de irem ao encontro do que do escrevi na primeira frase deste parágrafo, deverão de ser publicadas o quanto antes, de modo a dar tempo para que os alunos que não possuam uma calculadora com esta funcionalidade possam formatar a sua ou adquirir uma nova. Curiosamente, a Prova Final do 3.º Ciclo continuará a ter dois cadernos, um onde a utilização da calculadora é permitida e o outro onde não é permitida. 

Por fim, não há nada na IP que indique que a prova estará dividida em dois grupos, um para os itens de escolha múltipla e outra para os itens de resposta aberta, como nas provas até 2017. Portanto os itens de escolha múltipla deverão aparecer misturados com os de resposta aberta, como nas provas de 2018 e de 2019.

Neste momento são estas as informações mais relevantes que consigo extrair da IP que foi divulgada. Voltarei a este tema no caso de surgirem dados relevantes que mereçam uma reflexão neste espaço. 

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Publicado/editado: 02/11/2019