Teoria de Jogos por Alda Carvalho - Campeonato Nacional dos Jogos da Matemática (CNJM)

Eixos de Opinião de Outubro de 2019

Alda Carvalho - Docente do Ensino Superior e Investigadora do CEMAPRE/ISEG


Título: Campeonato Nacional dos Jogos da Matemática (CNJM)

Sendo este espaço dedicado aos jogos, neste primeiro artigo é pertinente falar do Campeonato Nacional de Jogos Matemáticos  (organização conjunta de Ciência Viva, Associação Ludus, APM e SPM, http://ludicum.org/cnjm). Este evento realiza-se em Portugal desde 2004, envolvendo centenas de escolas e dezenas de milhar de alunos do Ensino Básico e Secundário. Na final nacional, os alunos que representam cada escola inscrita encontram-se para a determinação dos campeões nacionais. Trata-se de um dia de festa com vários momentos em que centenas de alunos se concentram para pensar e tomar decisões nos seus jogos – sem tecnologia, sem barulho, apenas uma boa proposta de jogos matemáticos.  

Muitas vezes surge a questão "Quais são os benefícios destes jogos e como é que se relacionam com a matemática?". Intuitivamente percebemos que estes jogos estão mais próximos da matemática do que, por exemplo, da prática do salto em altura.

Foto do CNJM realizado na Maia em 2019

Para além de treino de memorização e de capacidade de cálculo, frisamos outros aspectos importantes: (1) Concentração: quem não se consegue concentrar para identificar factores fundamentais relativos a situações problemáticas não pode obter bons resultados nem no jogo, nem na matemática. Focar consiste em dar atenção a certas coisas, desprezando outras, consideradas irrelevantes para a situação do momento. Esta capacidade é susceptível de treino e melhoramento e os jogos matemáticos são óptimos objectos para esse efeito. (2) Visualização: uma das coisas mais importantes para um jogador consiste na capacidade de  prever uma sequência de acções antes que esta aconteça. Na matemática esta competência é fundamental, na visualização de aspectos gráficos, lógicos, geométricos, etc. (3) Pensar primeiro, agir depois: um inimigo comum a quase tudo. (4) Pesar as opções: quer na matemática, quer nos jogos, os problemas podem ser atacados através de várias alternativas, é na capacidade de avaliação desses caminhos que reside a sofisticação. (5) Abstracção: tanto nos jogos como na matemática, a estrutura de análise é baseada em teoremas, que são mais ou menos importantes e mais ou menos generalizáveis. Se isso é facilmente aceite na matemática, também é um fenómeno importante nos jogos porque certas técnicas são passíveis de abstracção, definindo padrões úteis em várias situações, distintas no detalhe mas similares na essência.

A competição associada aos jogos também é um factor interessante de se analisar. Para um jovem, um desafio matemático não costuma ser tão apelativo como uma vitória sobre o seu adversário. A meta nos jogos é imediatamente visível, traduz-se simplesmente no resultado da partida. O tipo de prazer associado ao pensamento matemático e ao pensamento do jogo é muitas vezes semelhante, mas dada a facilidade e a importância do objectivo, quase sempre os jogos são mais cativantes. O acto de pensar é algo que pode trazer plena realização a uma pessoa ao sentir que o seu pensamento produziu uma solução para determinado problema.

Por último, os jogos não substituem a matemática, devem ser uma prática complementar. A matemática tem objectivos estruturais com enorme importância para o desenvolvimento científico, enquanto que os jogos são mais virados para a competição e prazer imediato. A prática dos jogos, tal como outra coisa qualquer, é benéfica se a pessoa tentar melhorar e aperfeiçoar os seus conhecimentos. Jogar por jogar, sem tentar pensar nas melhores soluções, tira totalmente o encanto a qualquer jogo e elimina os factores benéficos que esta prática possa trazer. Se não for assim, não estamos realmente a jogar.

Publicado/editado: 05/10/2019