Vida & Obra de Charles Dodgson

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Charles Lutwidge Dodgson (1832 – 1898) foi um matemático e romancista inglês.

Charles Dodgson é mais conhecido pelo pseudónimo “Lewis Carroll” e como o autor de "Alice no País das Maravilhas" (1865) e "Alice do outro lado do espelho" (1872), livros infantis que estão entre os mais populares de todos os tempos. 

A invenção do seu pseudónimo surgiu da tradução dos seus primeiros dois nomes “Charles Lutwidge” para o latim: “Carolus Lodovicus” que anglicizou, invertendo depois a ordem.

O pai de Charles Dodgson estudou na Universidades de Oxford e foi nomeado professor de matemática em Oxford, mas casou-se e desistiu assumindo o cargo de reverendo de uma igreja em Daresbury. 

Em Daresbury a família Dodgson tinha algumas dificuldades financeiras, e por isso mudaram para Croft onde viveram uma vida simples, mas mais desafogada; moravam numa grande casa paroquial com um jardim maravilhoso. A 1 de agosto de 1844, Charles entrou na Richmond School como interno e morava na casa do diretor - a 16 quilómetros de casa. Nesta escola Charles recebeu uma excelente base para a sua educação e já na altura destacava-se em matemática. 

A 27 de janeiro de 1846, no seu décimo quarto aniversário, Charles matriculou-se na Rugby School. Esta escola era famosa, mas Charles achava tudo extremamente difícil. Charles era um rapaz tímido e sensível que gaguejava, e durante esse período sofreu bullying dos rapazes mais velhos. A obra S. D. Collingwood, The Life and Letters of Lewis Carroll (1967) refere que:

“From every point of view life at Rugby was a personal disaster for young Dodgson.”

Charles escreveu no seu diário sobre este período da sua vida:

“During my stay I made I suppose some progress in learning of various kinds, but none of it was done with love, and I spent an incalculable time in writing out impositions - this last I consider one of the chief faults of Rugby School. I made some friends there ... but I cannot say that I look back upon my life at a Public School with any sensations of pleasure, or that any earthly considerations would induce me to go through my three years again.”

Apesar de estar profundamente infeliz, Charles recebeu muitos prémios pelo seu trabalho escolar sendo a matemática a sua matéria favorita. 

Na primavera de 1848 teve tosse convulsa e no outono papeira - estas doenças tiveram um efeito duradouro ao longo da sua vida. A tosse persistente retornou várias vezes ao longo da sua vida e devido à papeira ficou um pouco surdo do ouvido direito. 

Charles tinha orgulho do pai e quis seguir os seus passos, por isso quando saiu da Rugby School matriculou-se no Christ Church College Oxford, que tinha sido a faculdade do pai. Em Oxford, Dodgson estava determinado a trabalhar muito para ganhar bolsas de estudo porque queria ser financeiramente independente. Dedicou-se a atividades sociais e culturais e trabalhou arduamente em matemática e, em novembro de 1851, recebeu uma bolsa Boulter no valor de 20 libras por ano. 

Em dezembro de 1852, Charles recebeu uma bolsa vitalícia de 25 libras por ano pelo seu muito bom e excelente desempenho nos Clássicos e em Matemática, respetivamente. Também teve direito a viver no Christ Church College, mas embora não houvesse requisitos para quaisquer outras realizações académicas, Dodgson foi obrigado a receber as ordens sacras e a permanecer solteiro.

Nesta altura, Dodgson queria ser nomeado professor de matemática, no entanto, para isso precisava de fazer provas para se canditar primeiro a uma bolsa, mas como se ocupou com o lazer e outras atividades culturais não conseguiu fazer o trabalho necessário em matemática. Começou a aceitar alunos, embora não como um tutor oficial da universidade, e isso também consumiu muito do seu tempo. Dececionado com o seu próprio desempenho nas duas provas do dia 22 de março de 1855, na manhã do dia seguinte desistiu e não compareceu para fazer a prova final na tarde de 23 de março. Escreveu no seu diário:

“It is tantalizing to think how easily ... I might have got it, if I had only worked properly during this term, which I fear I must consider as wasted. However, I have now got a year before me, and with this past term as a lesson ... I mean to have read by next time, Integral Calculus, Optics (and theory of light), Astronomy, and higher Dynamics. I record this resolution to shame myself with, in case March 1856 finds me still unprepared, knowing how many similar failures there have been in my life already.”

Durante o verão de 1855, Dodgson lecionou numa escola em Croft e, quando voltou para Oxford em outubro, foi como professor de matemática, a posição que queria. Dodgson permaneceu em Christ Church, Oxford, dando aulas de matemática e a escrever tratados e guias para estudantes até 1881. Embora tenha recebido ordens de diácono em 1861, Dodgson nunca foi ordenado sacerdote, em parte porque sofria de gagueira, o que tornava a pregação difícil. 

Entre os hobbies de Dodgson estava a fotografia. A família, os amigos e os colegas tornaram-se os temas das suas fotografias, mas ele destacou-se principalmente em fotografar crianças. Alice Liddell, uma das três filhas de Henry George Liddell, o reitor da Igreja de Cristo, foi um dos seus temas fotográficos e modelo para a Alice dos seus livros mais famosos. 

Como matemático, Dodgson era bastante conservador, mas muito completo e cuidadoso e foi o autor de um bom número de livros de matemática.

Nenhum dos seus livros de matemática provou ser de importância duradoura, exceto Euclid and his modern rivals (1879), reconhecido pelo seu interesse histórico. Dodgson escreveu-o para defender o uso dos Elementos de Euclides como meio de ensino de geometria. 

Como lógico matemático, Dodgson estava interessado em aumentar a compreensão, tratando-a como um jogo. Publicou The Game of Logic em 1887 e Symbolic Logic Part I em 1896. No último trabalho, Dodgson apresentou uma maneira de representar visualmente as proposições num diagrama, parecido aos diagramas de Venn. 

Assista ao vídeo seguinte sobre diagramas de Carroll:

Assista também a uma aula muito interessante do professor de matemática australiano Eddie Woo sobre estes diagramas:

O livro Symbolic Logic Part I contém a seguinte declaração de Dodgson:

“I have a quantity of manuscript in hand for Parts II and III, and hope to be able - should life, and health, and opportunity, be granted to me - to publish them...”

Entre 1959 e 1970, porções das partes perdidas foram encontradas por William Warren Bartley e publicadas pela primeira vez em 1977. Bartley afirmou que o material anteriormente não publicado mostra realizações específicas que podem ser creditadas a Dodgson, nomeadamente as seguintes:

- Em 1896, Dodgson desenvolveu um teste mecânico de validade para uma grande parte da lógica dos termos, uma realização geralmente creditada a Leopold Löwenheim [em 1915].
- Já em 1894, Dodgson usava tabelas de verdade para a solução de problemas lógicos específicos. A aplicação de tabelas de verdade e matrizes só entrou em uso geral em 1920.
- Em 1896, Dodgson desenvolveu o método das árvores para determinar alguma validade, que se assemelha às árvores frequentemente empregadas pelos lógicos contemporâneos.

Mais tarde foram descobertas outras contribuições importantes de Dodgson. Abeles escreveu:

“A discussion is given of three pamphlets on elections and committees by C L Dodgson (Lewis Carroll) written between 1873 and 1876. It is argued that Dodgson's work on cycles anticipates a stochastic model proposed by Thompson and Remage in 1964 and includes ideas that are basic to maximum likelihood estimation.”

Foram também numerosas as contribuições de Dodgson para a teoria das eleições, talvez sejam as mais significativas os trabalhos Parliamentary Elections The Principles of Parliamentary Representation, ambos escritos em 1884. Abeles escreveu ainda sobre este assunto:

“Dodgson's work present a complete and unified approach to the electoral reform issues which were being discussed at the time, but in doing so he developed and contributed ideas to game theory and apportionment which are well in advance of the 1880s.”

Em 1876 no seu trabalho “A method of taking votes on more than two issues” Dodgson apresenta o método de Dodgson

Finalmente, mencionamos o amor de Dodgson por quebra-cabeças. R. L. Green em The diaries of Lewis Carroll (2 vols.) (1953) referiu:

“He was good at charades, he sang, he told stories. Soon enough, jokes, puzzles, games, questions-and-answers, tricks with numbers and with words, and mental exercises became for him a means of everyday amusement and for his family and friends source of fun and diversion. He also played traditional games - chess, croquet, billiards, cards - but his mind was not content with these, and he expanded, extended, and experimented with all forms and fashions, pushing traditional entertainments to their outer limits and inventing new ones. in the 1870s he created a veritable cornucopia of conundrums and mental challenges, brilliant additions to the store of magic and game playing ... He was so creative and so productive that his games and diversions fill sizeable anthologies.”

Em 1895, publicou na revista “Mind”  “um curto diálogo que problematiza os fundamentos da lógica”: What the Tortoise said to Achilles

Como “Lewis Carroll” contribuiu com exemplos maravilhosos de versos sem sentido, dos quais o mais conhecido é “Jabberwocky” de Through the Looking-Glass

The Hunting of the Snark, publicado em 1876, foi chamado: 

“... the longest and best sustained nonsense poem in the English language.”

Várias palavras dos seus poemas sem sentido entraram no uso padrão da língua inglesa. Por exemplo, a palavra “chortle”, uma palavra que junta as palavras “snort” e “chuckle”, aparece em “Jabberwocky”.

 

Fonte: https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/Biographies/Dodgson/

Por Adília Marinho

Publicado/editado: 27/01/2021