Vida & Obra de Godfrey Harold Hardy

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Godfrey Harold Hardy (1877 – 1947) foi uma matemático inglês.

Os interesses de Hardy cobriram muitos tópicos de matemática pura: Análise diofantina, soma de séries divergentes, séries de Fourier, a função zeta de Riemann e a distribuição de primos.

Em 1889, Hardy ganhou uma bolsa de estudos para o Winchester College. Winchester era a melhor escola de Inglaterra para aprender matemática. Como todas as escolas públicas, foi um lugar difícil para um miúdo frágil e tímido como Hardy, por isso, não participou plenamente das atividades não académicas.

Em Winchester, Hardy ganhou uma bolsa de estudos para o Trinity College, Cambridge, onde entrou em 1890.

Hardy foi eleito professor do Trinity em 1900 e, em 1901, recebeu o prémio Smith juntamente com o matemático inglês James Jeans.

Hardy era um homem notavelmente honesto e, em particular, era muito honesto sobre as suas próprias habilidades, pontos fortes e fracos. Escreveu acerca do seu trabalho realizado até 1911:

“I wrote a great deal... but very little of any importance; there are not more than four or five papers which I can still remember with some satisfaction.”

Uma grande mudança no trabalho de Hardy aconteceu em 1911, quando começou a sua colaboração com Littlewood, que durou 35 anos. No início de 1913, recebeu a primeira carta de Ramanujan da Índia, que daria início à sua segunda grande colaboração. Hardy identificou instantaneamente o génio matemático a partir de um manuscrito. Hardy trouxe Ramanujan para Cambridge e eles escreveram cinco artigos notáveis juntos.

Quando a Primeira Guerra Mundial começou em 1914, Ramanujan estava em Cambridge o que amenizou um período que foi muito difícil para Hardy.

Littlewood deixou Cambridge para servir na guerra. Hardy ofereceu-se para o serviço de guerra, mas foi rejeitado por motivos médicos.

Profundamente infeliz em Cambridge, Hardy aproveitou a oportunidade para sair em 1919, quando foi nomeado professor Savilian de geometria em Oxford. Estes foram, em muitos aspectos, os anos em que ele foi mais feliz e também os anos em que produziu a sua melhor matemática, em colaboração com Littlewood.

Hardy / Littlewood

Essa colaboração foi alcançada durante um período em que Littlewood estava em Cambridge e Hardy em Oxford, tornando a investigação conjunta um exercício logístico bastante difícil. Hardy escreveu:

“I was at my best at a little past forty, when I was a professor at Oxford.”

Não foi apenas com Littlewood e Ramanujan que Hardy colaborou. Hardy foi um colaborador natural que também escreveu artigos conjuntos com Titchmarsh, Ingham, Edmund Landau, Pólya, E M Wright, W W Rogosinski e Marcel Riesz.

Apesar de ter sido infeliz em Cambridge, Hardy retornou à cátedra Sadleirian em 1931, quando Hobson se aposentou. Snow disse que Hardy retornou a Cambridge por duas razões, primeiro porque ainda considerava Cambridge o centro da matemática inglesa e, a cátedra Sadleirian a principal da matemática na Inglaterra, e segundo, que assim poderia manter os seus aposentos na faculdade de Cambridge, o que não era possível em Oxford. Para o solteiro Hardy, isso exerceu uma certa atração pois começava a envelhecer.

Hardy era um matemático puro que esperava que a sua matemática nunca pudesse ser aplicada. No entanto, em 1908, no início da sua carreira, descobriu uma lei que descrevia como as proporções de características genéticas dominantes e recessivas seriam propagadas numa grande população. Hardy considerou sem importância este trabalho, mas este provou ser de grande importância na distribuição de grupos sanguíneos.

Hardy tinha duas paixões, a matemática, e o críquete. Durante a maior parte da sua vida, o seu dia, pelo menos durante a temporada de críquete, consistia num pequeno-almoço durante o qual lia o jornal The Times e estudava as pontuações de críquete com grande interesse. Das 9h à 13h trabalhava nas suas próprias investigações matemáticas e após um almoço leve, ia até o campo de críquete da universidade para assistir a um jogo. No final da tarde, caminhava lentamente de volta para os seus aposentos na faculdade onde jantava e terminava o seu dia com uma taça de vinho. Quando não decorria a temporada de críquete, eram as pontuações do críquete australiano que Hardy lia no The Times e jogava ténis à tarde.

Hardy era conhecido pelas suas excentricidades. Não suportava tirar fotografias. Também odiava espelhos e a sua primeira ação ao entrar em qualquer quarto de hotel era cobrir os espelhos com uma toalha. Jogava um jogo divertido de tentar enganar a Deus (o que também é bastante estranho, já que  alegou toda a sua vida não acreditar em Deus). Por exemplo, durante uma viagem à Dinamarca, enviou de volta um cartão-postal dizendo que tinha provado a Hipótese de Riemann. Entendeu que Deus não iria permitir que o barco afundasse na viagem de volta e lhe daria a mesma fama que Fermat havia alcançado com o seu "last theorem".

Outro exemplo da sua tentativa de enganar a Deus era quando ia às partidas de críquete, preparava-se com o que chamava da sua "anti-God battery", que consistia em camisolas grossas, um guarda-chuva, papeis matemáticos, exames de alunos etc. A sua teoria era que Deus pensaria que Hardy esperava que chovesse para que pudesse continuar com o seu trabalho. Assim Deus para o irritar faria o sol brilhar o dia todo, e Hardy poderia desfrutar do jogo num dia soalheiro.

Em 1939, Hardy, aos 62 anos, teve um ataque cardíaco. Os seus notáveis poderes mentais começaram a deixá-lo e os desportos dos quais ele gostava de participar tornaram-se impossíveis. Hardy também estava cheio de raiva por a Europa ter entrado novamente na loucura da guerra. No entanto, Hardy tinha mais um presente para deixar ao mundo, o livro  escrito em 1940, A mathematicians apology, que inspirou muitos para a matemática. É uma das descrições mais vívidas de como um matemático pensa e do prazer da matemática. Mas, o livro é muito mais, Snow escreveu:

“A mathematicians apology is, if read with the textual attention it deserves, a book of haunting sadness. Yes, it is witty and sharp with intellectual high spirits: yes, the crystalline clarity and candour are still there: yes, it is the testament of a creative artist. But it is also, in an understated stoical fashion, a passionate lament for creative powers that used to be and that will never come again. I know nothing like it in the language: partly because most people with the literary gift to express such a lament don't come to feel it: it is very rare for a writer to realise, with the finality of truth, that he is absolutely finished.”

A seguinte citação deste livro dá uma ideia clara dos pensamentos de Hardy sobre a matemática:

“The mathematician's patterns, like those of the painter's or the poet's, must be beautiful, the ideas, like the colours or the words, must fit together in a harmonious way. There is no permanent place in the world for ugly mathematics.”

Em 1945 a saúde de Hardy deteriorou-se rapidamente. Na altura desejava ser criativo novamente, mas sabia que a sua criatividade havia desaparecido o que o deixou muito deprimido. Em 1946 andar alguns passos já o deixava sem fôlego. No início do verão de 1947, tentou tirar a própria vida, mas sobreviveu, e a partir daí resignou-se a esperar até à altura da sua morte.

Hardy recebeu muitas honras pelo seu trabalho. Foi eleito membro da Royal Society em 1910, recebeu a Royal Medal em 1920 e a Sylvester Medal em 1940:

“... for his important contributions to many branches of pure mathematics.”

Também recebeu a Copley Medal em 1947, poucas semanas antes de morrer:

“... for his distinguished part in the development of mathematical analysis in England during the last thirty years.”

Foi descrito da seguinte forma no Obituário do The Times:

“He personified the popular idea of the absent-minded professor. But those who formed the idea that he was merely an absent-minded professor would receive a shock in conversation, where he displayed amazing vitality on every subject under the sun. ... He was interested in the game of chess, but was frankly puzzled by something in its nature which seemed to come into conflict with his mathematical principles.”

Foi presidente da London Mathematical Society de 1926 a 1928 e novamente de 1939 a 1941. Recebeu a Medalha De Morgan em 1929.

Terminamos com o matemático e físico inglês Freeman Dyson (1923 – 2020) que nos fala das aulas a que assistiu lecionadas por Hardy e Littlewood. A não perder!

 

 

Fonte: https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/Biographies/Hardy/

 

Por Adília Marinho

Publicado/editado: 07/02/2022