Vida & Obra de Leone Battista Alberti

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A estátua de Leone Battista Alberti encontra-se na Piazza degli Uffizi, Florença

Leone Battista Alberti (1404 – 1472) foi um arquiteto e matemático italiano.

Acredita-se que Leone Alberti era filho ilegítimo de Lorenzo Alberti, pertencente a uma família rica que esteve envolvida em negócios bancários e comerciais em Florença durante o século XIV. Na verdade, o sucesso da cidade de Florença durante este período é, em grande parte, devido ao sucesso da família Alberti, cuja empresa tinha filiais espalhadas por todo o norte da Itália. Membros da família Alberti, não satisfeitos com as suas grandes conquistas financeiras, envolveram-se na política. Esta incursão na política acabou por ser desastrosa e resultou na expulsão da família Alberti de Florença, após a aprovação de decretos para exilá-los. O pai de Leone foi morar em Génova na época do seu nascimento. Em Génova o pai sentia-se mais seguro, trabalhou numa filial local da empresa familiar e continuou a ter o mesmo estilo de vida rico.

Em criança Leone recebeu a sua educação matemática através do pai. No entanto, quando a praga atingiu Génova, a família deslocou-se para Veneza, onde a empresa também tinha uma grande filial administrada por membros da família Alberti. Porém, o pai morreu pouco depois de chegar a Veneza e Leone passou a morar com um dos seus tios. Este arranjo durou pouco, pois o tio logo desapareceu. É provável que nessa época os membros da família estivessem a tentar por meios inescrupulosos obter o acesso à fortuna da família. 

Leone Battista frequentou uma escola em Pádua e a partir de 1421, frequentou a Universidade de Bolonha onde estudou Direito apesar de não gostar desta área. Leone adoeceu devido ao excesso de trabalho, mas ainda assim conseguiu formar-se em direito canónico. Foi nessa época que se interessou em prosseguir os seus estudos matemáticos, mais como uma forma de relaxar quando se sentia cansado, pois estudar direito exigia muito da sua memória. Foi nessa altura que escreveu a comédia Philodoxius (Lover of Glory, 1424), composta em versos latinos.

Nessa época, os decretos que obrigaram a sua família a fugir de Florença foram revogados e Alberti foi morar na cidade onde conheceu e ficou amigo do arquiteto e escultor Filippo Brunelleschi. Juntos partilhavam o interesse pela matemática e, por meio de Brunelleschi, Alberti começou a interessar-se pela arquitetura. 

Em 1430, Alberti começou a trabalhar para um cardeal da Igreja Católica Romana. Este posto permitia que viajasse muito, em particular para França, Bélgica e Alemanha. Começou assim uma carreira literária como secretário na chancelaria papal de Roma em 1432. O seu trabalho era escrever biografias dos santos em latim. Ir a Roma foi muito significativo para Alberti, pois foi lá que se apaixonou pela arquitetura clássica antiga, motivando-o a estudar não apenas arquitetura clássica, mas também pintura e escultura. 

Alberti esteve ao serviço do papa Eugênio IV, mas este foi um período de considerável fraqueza para o papado e a ação militar contra o papa forçou Eugênio IV a sair de Roma em várias ocasiões. Alberti deixou Roma com o Papa nessas ocasiões e passou um tempo na corte em Rimini. 

Nicolau V, que foi Papa de 1447 a 1455, era um entusiasta dos estudos clássicos e forneceu um ambiente adequado para os estudos de Alberti, que o presenteou com o seu livro sobre arquitetura De re aedificatoria (1452). Alberti modelou o livro (o primeiro livro impresso sobre arquitetura) a partir da obra clássica de Vitrúvio copiando o formato (dividiu o texto em dez livros). Os métodos de fortificação que Alberti expôs no texto foram altamente influentes e foram usados na fortificação de cidades por várias centenas de anos. 

Em 1447, o ano em que Nicolau V se tornou Papa, Alberti tornou-se um cónego da Igreja Metropolitana de Florença e Abade de Sant'Eremita de Pisa e, esteve à frente de uma série de projetos arquitetónicos importantes.

Alberti estudou a representação de objetos tridimensionais e, em 1435, escreveu o primeiro tratado geral De Pictura sobre as leis da perspectiva. Este foi publicado pela primeira vez em latim, mas no ano seguinte Alberti publicou uma versão italiana sob o título Della pittura. O livro foi publicado em 1511 e dedicado a Brunelleschi. 

Alberti escreveu sobre como gostava de aplicar a matemática a empreendimentos artísticos: 

“Nothing pleases me so much as mathematical investigations and demonstrations, especially when I can turn them to some useful practice drawing from mathematics the principles of painting perspective and some amazing propositions on the moving of weights .”

A historiadora Judith Field em Perspective and the mathematicians: Alberti to Desargue, também comenta como a matemática influenciou as artes por meio das contribuições de Alberti e de outros do mesmo período:

“What we seem to be seeing in this progress of perspective towards the applied arts in the sixteenth century is the progress of mathematics as an increasingly important component in the training and practice of craftsmen in general, and of architects in particular.”

Alberti trabalhou com mapas e colaborou com Paolo Toscanelli, que forneceu a Colombo os mapas para a sua primeira viagem. 

Escreveu também o primeiro livro sobre criptografia que contém o primeiro exemplo de uma tabela de frequências. 

No campo da matemática escreveu o tratado Ludi Matematici. Alberti partilhava a mesma opinião com um grande número de estudiosos do século XV, considerando a matemática como uma ferramenta, em vez de uma ciência independente. Aplicava fórmulas e usava a geometria apenas para calcular a altura de uma torre, a profundidade de um poço, a área de um campo. 

Albert também escreveu um livro com ideias matemáticas, mas infelizmente o manuscrito nunca foi encontrado.

Porém, Alberti é mais conhecido como arquiteto. Mencionamos acima que Alberti passou uma temporada em Rimini e foi lá que projetou a fachada do Tempio Malatestiano (Catedral de Rinini), a sua primeira tentativa de colocar em prática as suas ideias teóricas sobre arquitetura. Esta fachada foi projetada com o estilo do Arco de Augusto em Rimini e é o primeiro exemplo na história da arte de um edifício clássico que se tornou modelo para um edifício renascentista.

A Basílica de Sant'Andrea, Mântua, foi projetada por Alberti em 1470 e os trabalhos começaram dois anos depois. Alberti não viveu para ver o seu projeto mais famoso tomar forma, pois morreu no ano em que a construção começou. A historiadora americana Joan Kelly-Gadol em Leon Battista Alberti: Universal Man of the Early Renaissance fala da igreja e diz que Alberti:

“... avowed architectural aim, to schematise in the spatial form of the church the immanent, harmonious order of the world, found majestic realization in [his] own church of Sant' Andrea in Mantua. This was his final architectural work ... and it carries out these theoretical ideas with perfect artistic clarity.”

Alberti fez inúmeras inovações ao introduzir a divisão tradicional em nave e corredores descartados de modo a favorecer e oferecer um espaço contínuo. Há certamente um toque matemático no modo como Alberti apresenta sequências de capelas pequenas e grandes que se alternam ao longo das laterais do espaço principal.

Além da Basílica de Sant’Andrea, Alberti projetou a fachada de Santa Maria Novella em Florença, na qual começou a trabalhar em 1447, e o Palazzo Rucellai. Ambas as obras foram realizadas para o comerciante de Florença Giovanni di Paolo Rucellai. O Palazzo Rucellai foi projetado entre 1446 e 1451 e fica na Via della Vigna. Na praça, à direita, está a Loggia dei Rucellai construída por Alberti em 1460 como um salão formal para a família Rucellai.

Bertrand Giles refere no seu trabalho acerca de Alberti: 

“He was well aware of the difference between sensation (common observation) and scientific ideas: “Points and lines are not the same for the painter as for the mathematician.” 

Quanto ao caráter e aparência de Alberti, Gille também escreve:

“Alberti was, we are told, amiable, very handsome, and witty. He was adept at directing discussions and took pleasure in organizing small conversational groups.”

Na verdade, Alberti escreveu algumas notas autobiográficas que sobreviveram nas quais ele se gaba das suas habilidades físicas. Ele alegou que era capaz de:

“... standing with his feet together, and springing over a man's head. (...) excelled in all bodily exercises; could, with feet tied, leap over a standing man; could in the great cathedral, throw a coin far up to ring against the vault; amused himself by taming wild horses and climbing mountains."

Mesmo que falsas, estas citações contam-nos muito sobre a personalidade de Alberti. 

Terminamos com Giles que ainda refere:

“Unfortunately, a large part of Alberti’s scientific work has been lost. It is not impossible, however, that some of his works may be submerged in the scientific literature of the age without being known. Like all of his contemporaries, Alberti inherited a fragmentary science.”

 

Fonte: https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/Biographies/Alberti/
               https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/DSB/Alberti.pdf

Fotos retiradas de: https://it.wikipedia.org/wiki/Leon_Battista_Alberti#/media/File:Leone_Batista_Alberti.jpg 
                                           https://pt.wikipedia.org/wiki/Leon_Battista_Alberti#/media/Ficheiro:Leon_Battista_Alberti.jpg

Por Adília Marinho

Publicado/editado: 18/02/2021