Vida & Obra de Mary Cartwright

Vida & Obra de...

Mary Cartwright foi uma matemática inglesa nascida a 17 de dezembro de 1900.

A disciplina que Mary Cartwright mais gostava na escola era história, mas tinha a desvantagem de exigir muito esforço para aprender listas intermináveis de acontecimentos históricos. No último ano da escola encorajaram-na a estudar matemática e Mary percebeu que era um tópico em que podia ter sucesso. 

Em outubro de 1919, Mary Cartwright entrou no St Hugh's College em Oxford para estudar matemática. Naquela época, só havia cinco mulheres em toda a universidade a estudar matemática. Foi uma época difícil para entrar na universidade, a Primeira Guerra Mundial tinha terminado e havia um grande número de homens que regressavam do exército e que estavam a reiniciar os estudos universitários que haviam começado antes da guerra ou estavam a começar os estudos pela primeira vez. As salas de aula estavam lotadas e muitas vezes Mary tinha de copiar anotações de aulas nas quais ela não podia entrar por causa da multidão.

Após dois anos de estudo, fez exames e ficou em segundo lugar no curso. Cartwright estava dececionada com as condições de lotação difíceis e considerou seriamente desistir da matemática e voltar à história. Numa breve biografia sobre Cartwright, Shawnee McMurran e James Tattersall referem que: 

“A decisão de permanecer na matemática não diminuiu o seu [Mary] interesse pela história. Muitos dos seus artigos matemáticos incluem perspetivas históricas que adicionam uma dimensão interessante ao seu trabalho. Ela escreveu várias memórias biográficas que retratam o seu excecional senso de história.”

De volta a Oxford em 1928, foi supervisionada por Hardy nos estudos do seu doutoramento. Durante o ano académico de 1928-29, Hardy estava em Princeton, e foi Titchmarsh quem assumiu as funções de supervisor. A sua tese sobre zeros de funções integrais foi examinada por Littlewood. Na altura longe de imaginar que se tornaria, ao longo de muitos anos, uma importante colaboradora de Littlewood.

Em 1930 Mary Cartwright recebeu uma bolsa de investigação e foi para o Girton College, em Cambridge, para continuar a trabalhar no tópico da sua tese de doutoramento. Na altura assistia às aulas de Littlewood, e acabou por resolver um dos problemas abertos que ele colocava. O teorema ficou conhecido como Teorema de Cartwright. O teorema "deu uma estimativa para o módulo máximo de uma função analítica que assume o mesmo valor não mais do que p vezes no disco unitário."

A partir dessa época a sua investigação floresceu e numa longa série de artigos Mary continuou a explorar a teoria das funções complexas. Parte da complexidade foi capturada em imagens modernas de fractais. 

Cartwright foi nomeada, por recomendação de Hardy e Littlewood, para professora assistente de matemática em Cambridge em 1934, e no ano seguinte, foi nomeada professora, de meio período, de matemática. 

Em 1936, tornou-se diretora de estudos de matemática no Girton College e, em 1938, começou a trabalhar num novo projeto que teve um grande impacto na direção da sua investigação. Na altura o Conselho de Pesquisa de Rádio do Departamento de Investigação Científica e Industrial produziu um memorando sobre certas equações diferenciais que surgiram da modelagem de trabalho de rádio e radar, e pediu a ajuda à London Mathematical Society. Mary interessou-se pelos problemas e pedindo ajuda a Littlewood começaram em conujnto a estudar essas equações. Eles mostraram que “à medida que o comprimento de onda das ondas de rádio encurta, o seu desempenho deixa de ser regular e periódico e torna-se instável e imprevisível”. A partir dessa altura os engenheiros começaram a "manter o equipamento (do sistema de radar) dentro de faixas previsíveis". Littlewood escreveu:

“For something to do we went on and on at the thing with no earthly prospect of "results"; suddenly the whole vista of the dramatic fine structure of solutions stared us in the face.”

Esta estrutura que Littlewood descreve é hoje vista como um exemplo típico do "efeito borboleta". 

Com Mary nascia um novo campo da matemática, a teoria do caos, que na altura passou relativamente despercebido; a publicação deste trabalho decorreu após o fim da guerra. Hoje já é reconhecida a contribuição inicial de Cartwright para o desenvolvimento deste campo. O conceito “efeito borboleta” já era conhecido de Mary Cartwright, mas foi o matemático e meteorologista americano Edward Lorenz que imortalizou a frase: "O bater de uma borboleta no Brasil pode produzir um tornado no Texas?"

Em 1947 Mary Cartwright foi a primeira mulher matemática a ser eleita para a Royal Society. Foi a primeira mulher a receber a Medalha Sylvester e, a primeira mulher a servir no Conselho da Royal Society. Cartwright foi presidente da London Mathematical Society em 1961-62 tornando-se a primeira mulher presidente, e até agora a única mulher presidente. Também recebeu a Medalha De Morgan da Sociedade em 1968 e, em 1969 foi homenageada pela Rainha, tornando-se Dame Mary Cartwright, Comandante da Ordem do Império Britânico.

Cartwright é descrita por McMurran e Tattersall como:

"... a person who had a gift for going to the heart of a matter and for seeing the important point, both in mathematics and in human affairs."

E Caroline Series escreveu:

“Even at the age of 96, the TV documentary "Our brilliant careers" captured the sharp sparkle of her wit.”

 

Fonte: https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/Biographies/Cartwright/

              https://www.bbc.com/mundo/noticias-47365093

Por Adília Marinho

 

Publicado/editado: 17/12/2020