Vida & Obra de Peter Hilton

Vida & Obra de...

Fotografia: Evangelos Dousmanis

Peter John Hilton (1923 – 2010) foi um matemático inglês.

O seu interesse pela matemática foi inspirado por um infeliz incidente - aos 10 anos foi atropelado por um Rolls-Royce. Como passou muitas semanas no hospital com a perna engessada até a cintura, Peter fez uso do que mais tarde descreveu como "uma espécie de quadro branco, permanentemente disponível para mim". Apagava e voltava a escrever nesse “quadro branco” que usava para resolver problemas matemáticos e, não ficava contente quando o vinham visitar porque interrompiam o seu divertimento. Hilton conta esse episódio:

“At the age of 10, I was run over by a Rolls Royce, no less. It was an extraordinary incident. A boy in school snatched the cap off my head and ran across the road. I was angry and ran after him. I didn't notice the on-coming Rolls Royce. ... what happened was that I had a long period of recuperation, much of which was spent in a hospital bed with plaster of Paris on my left leg, all the way up, in fact, to my navel. So I had this sort of white board permanently available to me sitting on my stomach. It simply turned out that I spent a lot of my leisure time doing mathematical problems, writing them on the plaster of Paris, and erasing them each morning. It gave me the opportunity to realize that I had this intensive love of mathematics. I realized earlier that I had a certain proficiency, but I hadn't realized before that it was the sort of thing I would do when I had the choice of doing other things. So then it came to me that I really loved mathematics and thoroughly enjoyed doing it. I recall even having unkind thoughts about visitors who came to see if I was all right, as they would interrupt me when I was really enjoying what I was doing.”

Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, Churchill precisava de recrutar mais descodificadores de códigos e, o seu chefe de gabinete começou de imediato à procura de um matemático com forte conhecimento de línguas europeias. Na altura era pedir muito, e o único candidato que se apresentou para a entrevista foi Peter Hilton, estudante de matemática que aprendia alemão sozinho havia um ano. Hilton foi contratado, embora não soubesse qual seria a sua função. A sua posição oficial era no Ministério das Relações Exteriores.

A 12 de janeiro de 1942, apresentou-se na Hut 8, Bletchley Park. Aí conheceu Turing que lhe perguntou se ele jogava xadrez. Um dia depois, Hilton ficou a saber qual era o seu verdadeiro trabalho: descodificar mensagens secretas alemãs criptografadas pelas famosas máquinas Enigma. Embora tenha vivido até os 87 anos, Hilton afirmou sempre que Bletchley Park foi a parte mais emocionante da sua carreira. Durante a maior parte da sua vida profissional, Hilton foi investigador e professor de topologia, em várias universidades britânicas e depois nos Estados Unidos.

Muitos dos matemáticos mais brilhantes da Grã-Bretanha foram designados para Bletchley Park: Turing, Henry Whitehead e Max Newman entre eles. Hilton dava-se especialmente bem com Whitehead - eles frequentemente partilhavam uma ou duas cervejas - e quando a guerra acabou, Hilton foi convidado a regressar a Oxford como aluno de investigação de Whitehead, cujo campo de investigação era a topologia. Hilton referiu sobre este convite:

“I said, "But I don't know anything about topology." And he said, "Oh, don't worry, Peter, you'll like it." So in fact, I didn't even know what the subject was. I went back to Oxford, and I studied topology. Whatever Henry Whitehead had specialized in, I would have studied. His personality was so attractive, that it was clear that it was going to be great fun to work with him. It turned out to be not only fun but extremely exacting and demanding - it was a marvellous experience. I really took up topology because it was Whitehead's field.”

Mesmo assim, os seus interesses matemáticos eram amplos. Hilton concluiu o seu mestrado em Oxford em 1948 e, dois anos depois, o seu doutoramento. Durante este período assumiu um cargo na Universidade de Manchester (1948-52) e em 1952-55 esteve em Cambridge onde obteve o seu segundo doutoramento, regressando a Manchester em 1956 como professor senior. 

Refira-se como curiosidade que Hilton casou-se com Margaret Mostyn e ambos partilhavam o amor pelo teatro e pela atuação; Peter era amador, mas Meg era uma profissional. 

Hilton tinha conhecido em Bletchley Park Shaun Wylie e, juntos escreveram o livro: Homology theory: An introduction to algebraic topology, publicado em 1960. Este livro rapidamente se tornou um dos clássicos sobre o assunto. Hilton continuou a escrever vários outros textos de investigação, fazendo contribuições importantes na teoria da homotopia.

Em 1958, tornou-se professor de matemática pura na Universidade de Birmingham, onde previu passar o resto da sua carreira, principalmente como chefe de departamento. Mas, para escapar de um fardo crescente de trabalho, acabou por aceitar uma oferta da Universidade Cornell em Ithaca, nos Estados Unidos. De lá, mudou-se para a Universidade de Washington, depois para a Case Western Reserve University em Ohio e, finalmente, em 1982, tornou-se professor na State University de Nova Iorque, em Binghamton. 

Hilton deixou 15 livros e mais de 600 artigos.

Mais tarde na vida, Hilton interessou-se cada vez mais por educação e foi o primeiro vice-presidente da Mathematical Association of America, uma organização para professores. Foi consultor do Workshop de Televisão Infantil (agora o Sesame Workshop). Recebeu vários prémios, incluindo a medalha de prata da Universidade de Helsinque e três doutoramentos honorários. Várias conferências internacionais foram realizadas em sua homenagem. Apesar de não gostar desse tipo de trabalho, pertencia a uma variedade de comités importantes e era presidente do Comité do National Research Council.

Hilton era um homem de energia ilimitada, uma personalidade jovial que tinha tempo de sobra para quem partilhava do seu amor pela matemática. Deixamos a seguinte citação de Peter Hilton que traduz o seu pensamento sobre o ensino da matemática:

“Just as any sensitive human being can be brought to appreciate beauty in art, music or literature, so that person can be educated to recognize the beauty in a piece of mathematics. The rarity of that recognition is not due to the "fact" that most people are not mathematically gifted but to the crassly utilitarian manner of teaching mathematics and of deciding syllabi and curricula, in which tedious, routine calculations, learned as a skill, are emphasized at the expense of genuinely mathematical ideas, and in which students spend almost all their time answering someone else's questions rather than asking their own.”

Relembre Peter Hilton no vídeo onde nos fala de truques que podem ser explicados pela análise das propriedades dos números de Fibonacci e dos números de Lucas. Este vídeo foi gravado no Imperial College London durante a série de palestras da London Mathematical Society, em 1996.

 

Fonte: https://www.theguardian.com/science/2010/dec/02/peter-hilton-obituary
            https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/Biographies/Hilton/
           

Por Adília Marinho

Publicado/editado: 07/04/2021