Vida & Obra de Sofia Kovalevskaya

Vida & Obra de...

Sofia Kovalevskaya (1850 - 1891) foi uma matemática russa.

Sofia pertencia à nobreza russa e foi educada por tutores e governantas. Viveu primeiro na  propriedade rural da família e depois em São Petersburgo, ingressando no círculo social da sua família, que incluía o autor Fiódor Dostoiévski, considerado “um dos maiores romancistas e pensadores da história, bem como um dos maiores "psicólogos" que já existiram”.

Desde muito jovem que Sofia era fascinada pela matemática; escreveu na sua autobiografia:

“The meaning of these concepts I naturally could not yet grasp, but they acted on my imagination, instilling in me a reverence for mathematics as an exalted and mysterious science which opens up to its initiates a new world of wonders, inaccessible to ordinary mortals.”

Como curiosidade refira-se que quando Sofia tinha 11 anos, as paredes do seu quarto foram forradas com páginas de anotações de aulas de Mikhail Ostrogradski sobre análise diferencial e integral. Foi a estudar o papel das suas paredes que Sofia fez a primeira introdução ao Cálculo.

Sob a orientação do tutor da família Sofia realizou o seu primeiro estudo adequado da matemática, referindo que: 

“I began to feel an attraction for my mathematics so intense that I started to neglect my other studies.”

Nesta altura o pai decidiu interromper as suas aulas de matemática, mas Sofia pediu emprestado um exemplar da Álgebra de Bourdeu e lia-o à noite, enquanto o resto da casa dormia.

Um ano depois, um vizinho, o professor Tyrtov, presenteou a família com um livro de física da sua autoria, e Sofia tentou lê-lo. Como não entendia as fórmulas trigonométricas tentou explicá-las sozinha. Tyrtov percebeu que ao trabalhar com o conceito de seno, Sofia tinha usado o mesmo método pelo qual o seno foi historicamente desenvolvido. Tyrtov chamava-a de “a new Pascal”. Perante o brilhantismo de Sofia, Tyrtov tentou convencer o pai de que ela deveria estudar matemática, mas só vários anos depois é que o pai permitiu que Sofia voltasse a ter aulas particulares.

Como as universidades mais próximas abertas às mulheres eram as da Suíça e as mulheres na Rússia não podiam viver separadas das suas famílias, Sofia foi forçada a casar para poder ingressar na universidade. Aos dezoito anos casou-se com um jovem paleontólogo, mas o casamento de quinze anos não foi feliz, causando tempos intermitentes de tristeza, exasperação e tensão e a sua concentração foi interrompida pelas frequentes discussões e mal-entendidos com o marido.

Em 1869, Sofia viajou para Heidelberg para estudar matemática e ciências naturais, mas descobriu que as mulheres não podiam matricular-se na universidade. Acabou por persuadir as autoridades universitárias a permitir que assistisse, não oficialmente, às aulas. De acordo com as memórias de um colega estudante, ela:

“immediately attracted the attention of her teachers with her uncommon mathematical ability. Professor Königsberger, the eminent chemist Kirchhoff, .... and all of the other professors were ecstatic over their gifted student and spoke about her as an extraordinary phenomenon.”

Em 1871 Sofia mudou-se para Berlim para estudar com Weierstrass. Apesar dos esforços de Weierstrass e dos seus colegas, o Senado recusou-se a permitir que Sofia frequentasse cursos na universidade e, por isso, nos quatro anos seguintes Weierstrass deu-lhe aulas particulares.

Na primavera de 1874, Sofia tinha concluído três trabalhos. Weierstrass considerou cada um deles digno de um doutoramento. Os três artigos versavam sobre equações diferenciais parciais, integrais de Abel e anéis de Saturno. O primeiro deles foi uma contribuição notável publicado no Crelle's Journal em 1875.

Em 1874 Sofia obteve o seu doutoramento, summa cum laude (com a mais alta distinção), da Universidade de Göttingen. No entanto, o seu doutoramento e as cartas de forte recomendação de Weierstrass não foram suficientes para que Sofia obtivesse uma posição académica, o facto de ser mulher contribuiu grandemente para as rejeições. Sofia insatisfeita ao descobrir que o melhor trabalho que lhe seria oferecido era ensinar aritmética a turmas de raparigas do 1.º ciclo, durante seis anos não realizou investigação em matemática nem tão pouco respondeu às cartas de Weierstrass.

Em 1878 Sofia deu à luz uma filha, mas a partir de 1880 voltou-se de novo para a investigação matemática e em 1882 começou a trabalhar na refração da luz e escreveu três artigos sobre o assunto. 

Na primavera de 1883, o marido de Sofia de quem estava separada há dois anos, suicidou-se. Após o choque inicial, Sofia mergulhou no trabalho na tentativa de se livrar dos sentimentos de culpa que sentia. 

O matemático sueco Mittag-Leffler conseguiu superar a oposição a Sofia em Estocolmo e obteve-lhe uma posição como docente privada. Sofia começou a lecionar no início de 1884 e foi nomeada para lecionar extraordinariamente uma cadeira durante cinco anos em junho daquele ano; em junho de 1889 tornou-se a primeira mulher desde Laura Bassi e Maria Gaetana Agnesi a ocupar uma cadeira numa universidade europeia.

Durante os anos em Estocolmo, Sofia realizou o que muitos consideram a seu trabalho mais importante. Lecionou cursos sobre os mais recentes tópicos de análise e tornou-se editora da nova revista Acta Mathematica. Assumiu a função de ligação com os matemáticos de Paris e Berlim e participou da organização de conferências internacionais. O seu status atraiu a atenção da sociedade, e Sofia começou novamente a escrever as reminiscências e os dramas que gostava de fazer quando era mais jovem.

Sofia ganhou 5000 francos com o Prix Bordin da Academia Francesa de Ciências em 1886. As contribuições enviadas deveriam ser significativas e sobre o problema do estudo de um corpo rígido e Sofia submeteu o artigo: Mémoire sur un cas particulier du problème de le rotation d'un corps pesant autour d'un point fixe, où l'intégration s'effectue à l'aide des fonctions ultraelliptiques du temps. O prémio era de 3000 francos, mas devido ao brilhantismo do trabalho apresentado por Sofia este foi aumentado para 5000 francos.

Os trabalhos adicionais de Sofia sobre este assunto ganharam um prémio da Academia Sueca de Ciências em 1889 e, no mesmo ano, por iniciativa do matemático russo Pafnuti Chebyshev, Sofia foi eleita membro correspondente da Academia Imperial de Ciências. Embora o governo czarista lhe tivesse recusado repetidamente um cargo universitário no seu próprio país, as regras da Academia Imperial foram alteradas para permitir a eleição de uma mulher. 

No início de 1891, no auge das suas capacidades matemáticas e reputação, Sofia morre de pneumonia.

 

Fonte: https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/Biographies/Kovalevskaya/      

Por Adília Marinho

 

Publicado/editado: 15/01/2021