Vida & Obra de Tycho Brahe

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Tycho Brahe foi um astrónomo e matemático dinamarquês.

Tycho pertencia à nobreza dinamarquesa e em criança foi raptado pelo irmão do seu pai; este seu tio não tinha herdeiros. Os pais de János devem ter entrado em acordo com o tio e este acabou por o criar. 

Estudou Direito na Universidade de Copenhague, mas também outros assuntos, entre os quais, Astronomia. Foi, no entanto, o eclipse ocorrido a 21 de agosto de 1560, particularmente o facto de ter sido previsto, que o impressionou e entusiasmou a começar a fazer os seus próprios estudos de astronomia, auxiliado por alguns professores. Na altura Tycho tinha apenas 14 anos.

A título de curiosidade deixamos a descrição de Christopher Clavius sobre este eclipse (em Sphaeram Ioannis de Sacro Bosco Commentarius publicado em 1593):

“Citarei dois eclipses notáveis do Sol, ocorridos na minha época e, portanto, não há muito tempo. Um deles observei por volta do meio-dia em Coimbra na Lusitânia (Portugal) no ano de 1559 [sic], em que a Lua foi colocada entre a minha visão e o Sol, o que fez com que cobrisse todo o Sol durante um período de tempo considerável. Havia escuridão de alguma forma maior do que a noite; podia-se ver onde pisava. Estrelas apareceram no céu e (maravilhoso de se ver) os pássaros caíram do céu ao solo com medo de uma escuridão tão horrível." 

Tycho começou a fazer observações e, em agosto de 1563, na Universidade de Leipzig, na Alemanha, começou a manter um registo dessas observações. A segunda observação que ele registou foi uma conjunção de Júpiter e Saturno, que se provou significativa para a carreira de Tycho. Nem as tabelas de Copérnico ou Ptolomeu deram a data correta para a conjunção. Ptolomeu falhou por quase um mês e até mesmo Copérnico falhou por dias. Tycho, com a confiança de alguém que ainda não tinha dezassete anos, achou que poderia fazer melhor - e mais tarde provou que estava certo!

Começou a estudar astronomia com Bartholomew Schultz em Leipzig, que lhe ensinou alguns truques para obter observações mais precisas. Como as observações precisas exigiam bons instrumentos Tycho começou a adquiri-los e mais tarde a desenhá-los e a contruí-los na sua ilha, a Ilha de Hven (hoje chamada de Ven) oferecida pelo rei da Dinamarca que pretendia que Tycho permanecesse na Dinamarca e construísse aí um observatório. Nesta ilha Tycho construiu um castelo e um observatório, o Uraniborg.

Facto curioso: Em 1566, Tycho viajou, estudando primeiro na universidade de Wittenberg e depois na de Rostock. Enquanto em Rostock, envolveu-se numa discussão com outro estudante dinamarquês (a disputa foi por causa de uma fórmula matemática) e no duelo parte do seu nariz foi cortado. Regressando a casa, mandou fazer um nariz artificial feito de prata e ouro. Os retratistas da altura mostram apenas parte da deformação do seu nariz. No entanto, análises realizadas em 1901, na altura da abertura da sua tumba, revelaram que a prótese não seria de metais preciosos, como era suposto anteriormente. Detetaram no osso da região do nariz uma coloração verde. Na segunda exumação do seu corpo, em 2010, descobriram vestígios de partes iguais de cobre e zinco, o que indicava que a prótese seria feita de latão.

A 11 de novembro de 1572, na escuridão do início da noite, ao olhar para o céu observou uma estrela extra na constelação de Cassiopeia, quase diretamente acima. Ora, o aparecimento desta nova estrela não estava de acordo com a teoria aristotélica de que o “mundo supralunar” era perfeito e imutável. Com a precisão das suas medições, Tycho constatou que esta estrela pertencia ao firmamento, o que abalou o dogma da imutabilidade do Cosmos aristotélico que havia se tornado a visão da Igreja Católica na época. Em 1573 Tycho publicou De Nova Stella e foi convidado pelo rei a dar aulas de Astronomia na Universidade de Copenhagen.

J V Field refere em "Tycho Brahe (Personal communication, 1995)": Em 1599 Tycho foi nomeado Matemático Imperial do Sacro Imperador Romano, Rudolph II, em Praga (então a capital do Sacro Império Romano). Johannes Kepler era seu assistente, ajudava-o nos cálculos matemáticos. Tycho pretendia provar o seu modelo cosmológico, acreditava que a Terra (com a Lua em órbita ao seu redor) estava em repouso no centro do Universo e o Sol girava em torno da Terra (todos os outros planetas giravam em torno do Sol). 

Na verdade, na sua juventude, Tycho acreditava no modelo centrado no Sol de Copérnico, mas por outro lado, acreditava firmemente que qualquer teoria deveria ser apoiada por evidências experimentais. E, no modelo de Copérnico centrado no Sol, uma mudança de paralaxe deveria ser observada; apesar das suas tentativas de medir tal mudança Tycho não conseguiu detetar nenhuma. Havia duas possibilidades para explicar este facto: ou a Terra era fixa ou a escala do universo era incrivelmente grande. Hoje sabemos que a verdadeira é a segunda, e que a escala é tal que Tycho não poderia medir a paralaxe com os instrumentos que tinha ao seu alcance, apesar da qualidade das suas medições.

Com o apoio de Rudolph II e em conjunto com Kepler compilaram um novo conjunto de tabelas astronómicas com base nas observações registadas por Tycho ao longo dos seus 38 anos. Estas seriam chamadas de Tabelas Rudolphine em homenagem ao seu patrocinador.

Quando Tycho morreu, Kepler sucedeu-o como Matemático Imperial. As observações de Tycho sobre as posições planetárias, feitas com instrumentos com mira aberta (um telescópio só seria usado a partir de cerca de 1609), eram muito mais precisas do que qualquer uma feita pelos seus antecessores. Estas observações permitiram que Kepler, que (ao contrário de Tycho) era um seguidor convicto de Copérnico, deduzisse as suas três leis do movimento planetário e construísse tabelas astronómicas, as Tabelas Rudolphine. No entanto, até pelo menos meados do século XVII, o modelo do sistema planetário de Tycho era o preferido pela maioria dos astrónomos; tinha a vantagem de evitar os problemas introduzidos pela atribuição de movimento à Terra.

Sobre a morte de Tycho existiam duas teorias: inflamação da bexiga (por causa das boas maneiras, evitou retirar-se da mesa antes do seu anfitrião, mantendo-se demasiado tempo à mesa sem libertar a sua bexiga) ou envenamento por mercúrio (foram encontrados níveis tóxicos nos seus cabelos e na raiz dos cabelos). 

Joshua Gilder e Anne-Lee Gilder referiram no seu livro de 2005 “Heavenly Intrigue: Johannes Kepler, Tycho Brahe, and the Murder Behind One of History's Greatest Scientific Discoveries” de que havia evidências substanciais de que Kepler tinha assassinado Brahe; argumentaram que Kepler tinha os meios, motivos, e oportunidade, e que roubou os dados de Tycho na altura da sua morte. 

Outro suspeito do seu provável envenamento seria um seu primo a mando do rei por suspeitas de que Tycho tinha um caso com a rainha mãe.

Veja o vídeo seguinte da palestra de Ian Morison sobre "A Vida e a Morte de Tycho Brahe" no Gresham College.

A exumação do corpo de Tycho em 2010 mostrou que as concentrações de mercúrio encontradas não seriam suficientes para provocar o seu envenenamento, chegando à conclusão que não teria sido assassinado. A equipa de investigadores encontraram nas análises: vestígios de cobalto, arsénico e prata que eles suspeitam serem do laboratório alquímico que ficava no porão do seu observatório.

As últimas palavras de Tycho Bahre a Kepler a 24 de outubro de 1601 foram:

Don’t let my life have been in vain.

“Não deixe que a minha vida tenha sido em vão.”

 

Fonte: https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/Biographies/Brahe/

            https://pt.wikipedia.org/wiki/Tycho_Brahe

            https://www.theguardian.com/science/2012/nov/15/astronomer-tycho-brahe-death-scientists

Por Adília Marinho

 

Publicado/editado: 14/12/2020