Fim do 2º episódio "A Caçada". A não perder...
Uma história, 13 linhas, 6 matemáticos, uma parte de 6 em 6 dias...hoje 6ª Parte! Fim do Episódio...
Início do Episódio - 1ª Parte por José Carlos Santos - Dia 1
«Mais depressa! Corre!», disse o Marco, ofegante. A Elisa continuou a correr. De facto, embora fosse pequena e tivesse um aspecto frágil, a Elisa estava claramente em melhor forma física do que ele. Ambos corriam, mas o terreno pedregoso e a escuridão eram obstáculos, para além de não conhecerem o local.
Nessa manhã, o Marco tinha proposto irem passear pela Natureza, o que não era normal nele, um citadino até à medula. Mas a Elisa gostava do campo e concordou logo. Achou estranho que ele guiasse o jipe com tanta determinação em direcção a um pinhal onde, tanto quanto ela sabia, ele nunca estivera. Ao saírem do jipe e começarem a avançar pelo pinhal, o comportamento dele continuou a ser estranho. Não era o de alguém que estava a passear. Pelo contrário; embora com algumas hesitações e estando claramente a puxar pela memória, era óbvio que se estava a dirigir a um local concreto.
Agora, o que queriam era escapar aos seus perseguidores. Não sabiam quantos eram, mas conseguiam ver as luzes de muitas lanternas.
Finalmente, chegaram a um local elevado de onde esperavam ver algum sítio onde se abrigarem. Mas era somente a borda de um precipício. Muitos metros abaixo, passava um rio.
2ª Parte por Filipe Oliveira - Dia 6
O que fazemos? - perguntou Elisa. Um salto para o rio era possível, já tinha mergulhado de alturas superiores a estas. Se estivesse sozinha, não hesitaria em tentar a sua sorte. Mas preocupava-a deixar para trás o Marco. Se calhar nem sabe nadar, pensou. E ainda que soubesse não o imaginava capaz de se lançar para o vazio. Não desta forma, não hoje.
Vamos tentar outra coisa – respondeu Marco. Com uma destreza inesperada, tendo em conta o seu aspecto físico mais pesadão, subiu a um pinheiro.
Anda Elisa, sobe! Elisa lá imitou o irmão, escalando metodicamente os ramos que a separavam de Marco. Ao chegar junto a ele, aninhou-se, tentando fazer o menor barulho possível.
Da posição que ocupavam, podiam ver claramente as manchas das lanternas que se aproximavam e o alvoroço típico de uma perseguição a cavalo. Uma matilha de cães abria o cortejo, seguida de meia-dúzia de cavaleiros elegantemente vestidos de trajes de caça.
Por fim, uma dezena de batedores, a pé, fechavam a comitiva.
Marco e Elisa retiveram a respiração.
3ª Parte por José Veiga de Faria - Dia 11
Elisa levou a mão à boca aberta de espanto e de medo esquecendo por momentos a perplexidade com o comportamento do irmão.
Ela, habituada a viver no campo no meio da natureza e dos animais, gostava deles, entendia-os, reconhecia-lhes uma alma própria.
E sabia que estes senhores, aperaltados e arrogantes, eram capazes das maiores atrocidades.
Mas agora ultrapassavam tudo: estavam, se calhar por ser noite e estarem desorientados, se calhar por serem inconscientes ou estarem bêbados, a empurrar dezenas de animais para o precipício.
E não só os javalis e raposas que tentavam caçar: todos corriam o risco de morrer no rio.
Agarrou a mão de Marco que a apertou com força: também ele intuía o perigo.
De repente ouviram um rugido de trovão, em crescendo, ecoando sobre as suas cabeças.
- Síria!!!… gritou Marco em pânico lembrando-se que o primeiro ministro anunciara na véspera o envio de caças F-16 para apoio aos rebeldes.
A esquadrilha, em manobras noturnas, aproximava-se com estrondo a baixíssima altitude.
4ª Parte por Sílvio Gama - Dia 16
O barulho dos F-16 assustou os cavalos, fazendo derrubar os respectivos montadores. Aterrorizados, cavaleiros e batedores desbandaram em todas as direcções, excepto Quixote que, paralisado, gritava <<Sancho... Sancho...>>. - Por aquí, senõr Quijote!
Sancho, como que surgido do nada, agarrou o braço de Quixote e puxou-o em direcção ao local mais elevado que viu em redor. Os F-16 distanciavam-se. - Qué mierda es esta?
Três pinhas, certeiras, tinham acabado de atingir a cabeça de Quixote. Sancho, pasmado pela grosseria dos vocábulos que acabara de ouvir, retorquiu <<Son piñas, Señor Quijote! Son piñas!>>. Ambos olharam para o alto da árvore de onde estas tinham tombado e identificaram, empoleirados, dois dos cavaleiros da comitiva mais três batedores. Um pouco mais alto, na mesma árvore, os olhares de Marco e Elisa cruzavam-se hesitantes. <<Rápido... subam!>>, disse-lhes Marco.
- ¿Qué están haciendo aquí? – Quixote gritou aos irmãos.
Um som ameaçador surgiu do sopé da árvore: um javali, de porte soberbo munido com dois pares de presas impressionantes, focava o rechonchudo Sancho.
5ª Parte Paulo Correia - Dia 21
Quixote trepou, em silêncio e com a agilidade de uma aranha até aos ramos baixos da árvore…
Já para o pobre Sancho, nenhuma identificação com qualquer animal parecia ajudar a ultrapassar a situação, e todos adivinhavam uma situação complicada, quando a menina Elisa deixou os valentes homens num misto de embaraço pela inoperância e maravilhados pela coragem…
A jovem, desceu rapidamente alguns ramos, passando pelos cavaleiros e batedores, e saltou para o chão, caindo perto do precipício…
Todos perceberam a manobra de diversão e a intenção de mergulhar no rio.
Como que a cumprir a sua parte do plano, o javali centrou a sua atenção em Elisa, o que permitiu a Sancho apoderar-se de uma arma de caça perdida na confusão.
Mas o stress e a evidente falta de prática na manipulação de armas de fogo, não ajudavam…
Todos incitavam Sancho a atirar, Elisa avaliava a necessidade de mergulhar, quando finalmente, o homem lá conseguiu fazer um disparo.
6ª Parte Carlos Marinho - Dia 26
Na noite fria o tiro alojou-se nas mentes de todos. À vista desarmada não teria atingido ninguém. Contudo, num ápice, de local muito agitado passou-se a um teatro de guerra. Em poucos segundos, foram disparados dezenas, talvez centenas de tiros. Marco num cálculo mental rápido, usando alguma matemática (trigonometria/teorema de Pitágoras), estimou um salto de 3,4 metros, valor da hipotenusa de um triângulo pouco retângulo do cimo da árvore até ao solo. Até parecia que tinha feito aquele cálculo há pouco tempo. Intrépido, agarrou com firmeza a mão de Elisa e sussurrou-lhe: - "ao meu sinal, saltamos para aquele morro. Depois, saltamos para o rio". Elisa incrédula: - "mas…mas…tu consegues saltar daqui?" Marco com um movimento acrobático saltou, empurrando Elisa. De seguida, correram meia dúzia de metros e irromperam pelo abismo em direção a um rio indómito e perigoso.
Ouviu-se um estrondo do outro mundo...puuuuuuuuummmmm! que ecoou no piso de baixo da casa. Elisa entrou pela porta do quarto de Marco gritando: - "O que foi? O que foi?" Marco respondeu: - "caí abaixo da cama! Estava a sonhar! A ter um pesadelo! Fujíamos ambos de uma caçada, de uns bandidos com cães, tiros, caças F-16, saltamos de uma árvore, atirámo-nos de um precipício para um rio violento". Elisa respondeu: - "Pois…pois…quem te mandou ontem ver o telejornal e o Rambo, quando daqui a pouco tens o exame de Álgebra Linear e Geometria Analítica II! Seu idiota, veste-te que eu levo-te à faculdade…"