Fim = Contos de 3º Grau - A Descoberta por Paulo Correia

Contos de 3º Grau - Matemática
Fim=7º Episódio: Contos de 3º Grau - 6ª Parte por  Paulo Correia
A Descoberta
    

Clube de Matemática SPM


Título: A Descoberta…


1ª Parte por Carlos Marinho - Dia 1

Cidade do Porto. São oito da manhã do dia 1 de setembro de 2032. 

Surgiu uma noticia que irá ser apresentado na universidade um dispositivo que irá mudar a face do mundo. 

Está marcado para as 10 horas da manhã uma conferência de imprensa onde irão constar a comunicação social de todo o mundo e, ainda com a presença de figuras de cúpula de todo o planeta. 

Existe uma agitação natural, que sai fora das vivências habituais desta universidade. Não pela circulação de alunos pela rua do Campo Alegre, mas pelas regras impostas pelo forte dispositivo de segurança que se faz sentir na área. Difíceis de contar são os jornalistas presentes que fazem um espectáculo dentro de outro espectáculo. Polícia por todo o lado, até o exército foi destacado para este evento. 

As notícias em directo acumulam-se minuto a minuto, onde cada pormenor é alimentado com grande ênfase, provocando uma expectativa no que virá a acontecer num dos departamentos mais prestigiados do mundo, mais precisamente no auditório principal do Departamento de Matemática Pura da Universidade do Porto.

2ª Parte por José Carlos Santos - Dia 6

«Senhoras e senhores» — dizia um repórter da AEC (Agência Europeia de Comunicações) — «confirma-se a presença no local da Presidente da União Europeia, do Secretário-Geral das Nações Unidas e do Secretário de Estado Norte-Americano. Não! Esperem… Acabo de ser informado de que o Secretário-Geral das Nações Unidas está a dirigir-se para aqui mas que ainda não chegou.» Uma multidão bastante excitada tentava ver ao longe o que se estava a passar embora, na verdade fosse mais cómodo e mais eficaz fazê-lo à distância pela Net. Naturalmente, nenhuma pessoa podia aproximar-se do local sem autorização.    
O repórter anunciou então que ia entrevistar o professor Aurélio Moreira, o primeiro (e único) português a receber a medalha Fields, o mais prestigiado prémio em Matemática. O professor, falando de sua casa, começou por explicar ao espectadores que não estava ligado aos grupos de investigação da Universidade do Porto e que, por isso, só podia fazer observações genéricas. «Compreendo isso, professor» — disse o repórter da AEC — «mas pode fazer alguma conjectura?» Aurélio Moreira reflectiu um pouco e disse então: «Sim. Posso mesmo fazer várias.»

3ª Parte Filipe Oliveira - Dia 11

«Mas há uma possibilidade que me parece mais provável do que as outras», continuou Aurélio Moreira. «Repare: há alguns pontos estranhos nestes acontecimentos. Diz-se que vão comparecer altos dignitários internacionais, como o Presidente da União Europeia, o Secretário-Geral das Nações Unidas ou o Secretário de Estado Norte-Americano. Onde é que já se viu tal coisa? Virem de propósito a Portugal (ou a outro país qualquer) para uma conferência de imprensa?! Estes dirigentes, quando necessário, falam a partir das suas sedes. Depois, a investigação e o avanço na tecnologia não funciona assim. Consegue recordar-se da última vez que sucedeu algo neste moldes? Uma descoberta anunciada nestes termos? Eu não…»     
  «Muito bem, Prof. Aurélio Moreira, é verdade que a história tem contornos estranhos, mas o que conclui?»   
«Bem, certos modelos da Física Quântica preveem que existam outros mundos, outras dimensões, para além da nossa. É teoricamente possível que o nosso mundo esteja a ser inventado por seres sentientes que vivem noutra dimensão, e que tudo isto seja um trabalho de ficção».   
«Espantoso! Isso é mesmo possível?!»   
«Sim, esta narrativa, se pensarmos bem, tem tudo a ver com ficção. Até consigo postular que esses seres extradimensionais vivam numa região que, no universo deles, também se chama Portugal e também tem uma Universidade do Porto. E parece-me que devem estar ligados à Matemática, ou pelo menos às Ciências…»   
«Muito bem, mas porque fala constantemente no plural? O que o faz pensar que existe mais do que um desses “autores”?»   
«É fácil. Já viu as guinadas que esta história de vez em quando dá? Essa observação é compatível com uma mudança de narrador…»

4ª Parte por José Veiga de Faria - Dia 16

A umas dezenas de metros do Auditório, no vernáculo e agradável café Convívio junto ao Mercado do Bom Sucesso, passava-se a conversa que relatamos a seguir.  
- Já viste isto pá: parece uma feira de notáveis  – dizia Eduardo Fonseca, acabado de chegar, a André repórter do novíssimo jornal diário “Porto no Futuro” que tomava, calmamente e  com ar de quem refletia intrigado, o seu café da manhã.  
- Ya :já dei voltas ao miolo mas isto não faz qualquer sentido- respondeu André visivelmente perplexo. Isto é como nos romances policiais: partimos dos fatos, que temos de confirmar com segurança, e procuramos uma história que encaixe: só que aqui nada encaixa.  
- Então  e as histórias paralelas do universo.  
- Oh pá! esquece! O tipo esquizofrenizou: com as recentes notícias de evoluções perturbantes para o futuro da Europa e do Mundo agarrou-se a essa Teoria que lhe permite imaginar que entra na narrativa que melhor preserva o brilhante edifício mental que tanto trabalho lhe deu a construir. Não a minha interpretação é outra...  
- Tal como...  
- Educação meu caro. Lembras-te da frase de Camus: preparamos os jovens para um mundo que já não existe. Pois cá para mim estes gajos da UE acordaram e já perceberam que têm que preparar mentes capazes de defender o futuro da nossa civilização: e é isso que reúne este pessoal todo... Vão anunciar as linhas mestras...  
- Bolas pá; faz sentido. Se estiveres certo tens aí uma grande Primeira Página...

5ª Parte por Sílvio Gama - Dia 21

- Talvez... talvez!  - dizia André - Uma boa primeira página para um jornal pode ser uma má página para um outro. Por exemplo, para o Saiba Tudo uma boa primeira página é a azia do Secretário-Geral das Nações Unidas. 
- Estás a falar do Chen Xu? 
- Sim, sim... Ontem à noite estava a jantar nas Caves, lá no Cais de Gaia, e quem aparece? O Chen Xu que, ao que parece, queria experimentar a francesinha. O grupo que o acompanhava pediu francesinhas com molho à parte, pois não sabiam se Chen Xu apreciaria o picante do molho. 
- E depois? – perguntou o Eduardo, com a curiosidade a subir e as questões dos universos paralelos a abandonarem a sua mente. 
- Depois... depois! Imagina! Lá veio o molho para todos, numa molheira, claro, e alguém resolveu estender a molheira ao Chen Xu para ele se servir. Com o seu sorriso oriental, ele lá recusou... insistiram novamente... ele volta a recusar... insistem... insistem... e aí... ele agradeceu, levantou-se ligeiramente... fez duas vénias... e bebeu todo aquele molho. 
- Não acredito! 
- Não acreditas? Olha, numa espécie de solidariedade para não envergonhar o homem, todos comeram as suas francesinhas sem molho. Bem... vamos lá para a conferência... eu pago. 
Os dois jornalistas passaram pelos diversos dispositivos de segurança e controlo, chegando ao átrio do auditório principal do Departamento de Matemática. Foi então que viram chegar Chen Xu que, de rosto cansado e irritado, parecia dar sinais para que a conferência começasse de imediato, ao mesmo tempo que punha no bolso do casaco uma caixa de Compensan. 

6ª Parte por Paulo Correia - Dia 26 - Fim do Episódio

Finalmente começou a cerimónia solene.
Depois das habituais apresentações e saudações aos elementos da mesa, foi dada a palavra a Chen Xu.
Num inglês tecnicamente perfeito, mas com uma dose generosa de sotaque, começou por se desculpar pelo ligeiro atraso, elogiou a hospitalidade local com referências ao exotismo da gastronomia (alguns presentes esboçaram sorrisos e contiveram o riso).
Depois, num registo mais formal, anunciou o tão esperado dispositivo:
 - a primeira central de fusão nuclear de produção continuada a ser construída  área metropolitana do Porto, a cargo de um consórsio internacional de governos e empresas privadas.
Seguiram-se depois os anúncios e agradecimentos de circunstância e o final da conferência sem direito a qualquer pergunta da audiência... 
A realização da cobertura televisa precorreu rapidamente os principais comentadores...
Um flop... esta tecnologia já mostrou que não funciona – esbanjamento de dinheiro, disseram uns.
Uns "faits divers"... devem ter usado isto para desviar a atenção da atual crise económica na China,  disseram outros.
Uau... energia limpa e infinita, disseram outros.
Aurélio, notoriamente comovido, disse laconicamente... mesmo que se venha a verificar um fracasso, investir em conhecimento é sempre melhor que investir em armas ou juros... talvez a humanidade tenha, finalmente, começado a perceber isto!

 


Os contos de 3º grau é uma rubrica escrita por episódios por 6 matemáticos. De cindo em cinco dias, um episódio. No final de cada mês temos o fim da história. Desde fevereiro até julho foram escritas 6 histórias todas diferentes com finais sempre surpreendentes. Leia ou releia nas férias estes contos e ria-se com a matemática de cada conto. 


Recorde Aqui:

                     
   6º Episódio - Apenas Acaso, provavelmente (Leia Aqui)
                                      

                     
  5º Episódio - A Jornalista dos Emigrantes 2013 (Leia Aqui)
                                      

                      
 4º Episódio - Tempos Felizes (Leia Aqui)
                                      

         3º Episódio - O Impacto (Leia Aqui)                                     
        
2º Episódio - A Caçada (Leia Aqui)                                    

         1º Episódio - A Folha de Excel (Leia Aqui)     
Publicado/editado: 25/09/2013