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Neste espaço propomo-nos disponibilizar pequenos artigos que forneçam um complemento de formação aos alunos do secundário para que entrem no Ensino Superior mais preparados/motivados na área da Matemática, ou artigos que sejam uma reflexão (que poderá aparecer sob a forma de entrevista) sobre o ensino da Matemática ou a vida nas escolas ou o papel que estas desempenham no desenvolvimento do País sempre com o objectivo de ajudar a integrar o aluno com a sua formação matemática, o aluno com os professores, ambos com a Escola e esta com o País.
José Veiga de Faria - Professor de Matemática
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Conforme prometemos no artigo do mês passado (que pode ler aqui) deixamos a tradução - mais uma vez pedindo desculpa pelos danos que possa ter causado a um texto que o autor da biografia considera uma joia da literatura amadora alemã - da carta, escrita em 12 de Julho de 1804 (tinha então 27 anos), em que Carl Friedrich Gauss se declara à que viria a ser a sua primeira esposa Johanna Ostoff.
Minha muito querida amiga, aceite favoravelmente o fato de nesta carta eu lhe abrir o meu coração, acerca de um importante assunto, em relação ao qual não encontrei, até agora, qualquer oportunidade adequada para falar consigo.
Finalmente, deixe-me que lhe diga da plenitude da minha alma, que tenho um coração para as suas silenciosas e angélicas virtudes, um olho para as suas nobres qualidades que fazem da sua face um verdadeiro espelho dessas virtudes. Você, querida alma tão modesta, está tão afastada de toda a vaidade que você própria não reconhece o seu valor; não sabe com quanta riqueza e amabilidade os céus a dotaram. Mas o meu coração conhece o seu valor - O! Mais do que aquilo que consegue suportar sem esforço. Desde há muito tempo que lhe pertence. Será que não o vai repelir? Será que me pode dar o seu? Querida, consegue agarrar a mão que ofereço, e fazê-lo com alegria? A minha felicidade está suspensa desta resposta.
Na verdade, no presente, não lhe posso oferecer riqueza ou esplendor. Ainda assim, querida, não me posso ter enganado acerca da beleza da sua alma -‐ estou certo de que é tão indiferente às riquezas e esplendores quanto eu próprio. Mas tenho mais do que aquilo que preciso para mim só, o suficiente para duas pessoas começarem uma vida sem cuidados, agradável, sem olhar às minhas perspetivas para o futuro. O melhor que lhe posso oferecer é um coração verdadeiro e pleno do mais caloroso amor por si.
Pergunte a si mesma, minha amada amiga, se este coração a satisfaz, se lhe pode corresponder com sentimentos igualmente sinceros, se pode com ânimo fazer o caminho da vida de mãos dadas comigo, e decida depressa.
Coloquei perante si, minha querida, os desejos do meu coração com palavras sem arte mas cândidas. Podia pintar para si um retrato dos seus encantos, os quais, embora não fossem mais do que a verdade, receberia como adulações; podia fazer um retrato do meu amor com cores ardentes - para ser sincero, só teria de dar livre curso aos meus sentimentos - um retrato da felicidade ou desconsolo que me esperará depois de ter aceite ou rejeitado os meus desejos. Mas não quis fazer isso. No mínimo, não duvide da pureza do meu amor desinteressado. Não quero subornar a sua decisão. No mais sério interesse pela sua vida não deve permitir que considerações estranhas a influenciem. Não é suposto que traga um sacrifício para a minha vida. Só a sua felicidade deve guiar a sua decisão. Sim, minha querida, eu amo-a com tanto ardor, que só possuí-la me pode fazer feliz, desde que esteja em acordo comigo.
Minha querida, expus-‐lhe o mais íntimo do meu coração; de forma apaixonada e em suspenso aguardo a sua decisão.
Com todo o meu coração,
C. F. GAUSS
Nota Final:
Gauss casou-se com Johanna em Outubro de 1805.
Johanna faleceu em 1809 depois de dar à luz o seu segundo filho que viria a morrer logo a seguir à mãe.