(Di) Visões por Miguel Abreu

Digo com frequência, quando falo sobre ensino de Matemático, que qualquer aluno tem de saber a matemática do 1º e 2º ciclos a 90/100%, pois só dessa forma tem boas condições para continuar o seu estudo nos anos seguintes. De facto, e estando assumidamente a ser muito simplista, ter 70% a Matemática no 1º/2º ciclo não pode ser considerado como satisfatório, muito menos como bom, pois significa conseguir resolver corretamente apenas cerca de 50% dos exercícios e problemas que envolvam dois tópicos dessas matérias (o que inclui praticamente todos os exercícios e problemas que terão que ser resolvidos depois, no 3º ciclo), cerca de 35% dos exercícios e problemas que envolvam três desses tópicos, ...

Os resultados das provas finais e exames nacionais de Matemática em 2013 mostram, e são também reflexo, disso mesmo:
- Na prova final de Matemática do 4º ano cerca de 1/3 dos alunos teve um resultado inferior a 50%.
- Na prova final de Matemática do 6º ano cerca de 1/4 dos alunos (28.000 em 110.000) teve um resultado inferior a 30% e cerca de 1/2 dos alunos (54.000 em 110.000) teve um resultado inferior a 50%.
- No exame de Matemática do 9º ano cerca de 1/3 dos alunos (33.000 em 97.000) teve um resultado inferior a 30% e cerca de 60% dos alunos (58.000 em 97.000) teve um resultado inferior a 50%.

Os resultados nas prova do 4º ano (resp. 6º ano) indicam que será muito difícil melhorar os resultados da prova do 6º ano (resp. 9º ano) nos próximos anos. 

É fundamental conseguir melhorar significativamente os resultados na prova do 4º ano.

Considerando, com muita generosidade, que para escolher Matemática A no secundário um aluno deveria ter pelo menos 60% no exame de Matemática do 9º ano, só cerca de 24.000 alunos deveriam ter feito essa escolha em 2013-14. Se a exigência fosse ter pelo menos 70% nesse exame, o que seria muito mais razoável, só cerca de 16.500 alunos deveriam estar a fazer o 10º ano de Matemática A em 2013-14.

Em 2013 fizeram exame de Matemática A (12º ano) cerca de 47.500 alunos (num total de cerca de 71.000 alunos que fizeram exames, tomando por base o número de exames de Português). Assim, tendo em conta estes números, parece-me razoável afirmar que mais de metade dos alunos que tem feito Matemática A no ensino secundário não tem realisticamente condições para a fazer com sucesso. Fico até surpreendido que a média do exame nacional dos alunos internos em Matemática A tenha sido de 9,7 em 2013. Seria razoável esperar bem pior. 

De facto, todos estes resultados só não são bem piores pela mesma razão que faz com que parte desta análise seja demasiado simplista: o muito esforço e trabalho de professores e alunos, com o indispensável apoio das famílias, torna muitas vezes possível identificar e ultrapassar lacunas, criando condições mínimas para se poder continuar a ensinar e aprender matemática. Vale certamente a pena continuar a trabalhar nesse sentido. Não devemos é esperar milagres, pois só começando por melhorar significativamente os resultados na prova do 4º ano será depois possível melhorar os resultados das outras provas finais e exames nacionais.

PS: tudo isto pressupõe, naturalmente, provas finais e exames nacionais com níveis de exigência adequados e consistentes ao longo do tempo, algo que tem felizmente vindo a acontecer nos últimos 3 anos e que é fundamental manter-se.

Bom Carnaval!