N(eur)ónios por Tiago Fleming Outeiro - Colaborar para Chegar mais Longe

Eixos de Opinião de Dezembro de 2019

Tiago Fleming Outeiro - Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen (Ver +)


Título: Colaborar para Chegar mais Longe

A ciência actual é extremamente complexa, sendo que os investigadores acabam por se especializar em áreas muito específicas, que estudam ao pormenor. Assim, os grandes avanços actuais resultam, normalmente, de colaborações entre várias equipas de investigação em que cada grupo contribui com os seus conhecimentos, muitas vezes interdisciplinares.

Ao longo da minha experiência na ciência, fui percebendo que não só é impossível trabalharmos sozinhos, como é muito mais interessante e produtivo trabalharmos em equipa. Assim, tenho tido a sorte e a honra de colaborar com diversos grupos Portugueses e estrangeiros, permitindo-nos, em conjunto, fazer descobertas mais importantes. Desta vez, escrevo sobre uma dessas colaborações, que me tem dado um prazer especial, por ser com colegas de outro país de língua Portuguesa – do Brasil.

Esta colaboração iniciou-se já há uns 10 anos, quando gentilmente me convidaram para ser palestrante no congresso da Sociedade Brasileira de Bioquímica. Nessa altura, percebemos que tínhamos interesses complementares, e que faria sentido trabalharmos em conjunto. Deste contacto inicial, surgiram várias outras colaborações, tendo havido um forte intercâmbio de jovens investigadores entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o meu grupo de investigação na Alemanha. Estas colaborações têm sido possíveis pois obtivemos, ao longo de vários anos, financiamentos que nos permitiram então fazer esse intercâmbio de investigadores, sendo que vários estudantes e pós-docs do Brasil visitaram o meu grupo na Alemanha, e outros estudantes meus visitaram a UFRJ. Nestes projectos, eu e os investigadores seniores envolvidos também nos visitámos mutuamente, tendo dado palestras, aulas, e cursos, que muito têm beneficiado os estudantes envolvidos.

Da colaboração com a Prof. Elis Eleutherio, resultaram já várias publicações, sendo que a mais recente, publicada no dia 2 de Dezembro, foi numa revista de enorme prestígio internacional, conhecido na gíria científica como PNAS - a revista da Academia Americana de Ciências. Neste trabalho, estudámos o comportamento de uma das proteínas associadas com a esclerose lateral amiotrófica, uma doença neurodegenerativa progressiva e incurável que tem efeitos muito debilitantes, levando à morte dos doentes em alguns anos. O caso mais mediático foi o do físico Inglês Stephen Hawking, que morreu em 2018 depois de várias décadas com doença.

O objectivo deste texto não é explicar em detalhe o nosso estudo, que pode ser consultado aqui, mas sim o de falar um pouco da importância das colaborações científicas e, neste caso em particular, de colaborações que mantenho com vários grupos de pesquisa da UFRJ. Ao longo destes 10 anos, tive várias oportunidades de visitar os colegas do Rio, e de perceber a qualidade e o mérito que têm, pois trabalham em condições económicas difíceis, tendo cargas lectivas intensas, que deixam menos tempo para a investigação. Apesar das dificuldades, sou sempre recebido com um carinho e cuidado extremos, que me fazem sentir muito bem vindo. 

Nesse momento, tenho o privilégio de ser Professor visitante estrangeiro da UFRJ, sendo que essa ligação me vai permitir visitas regulares, para lecionar, para organizar eventos científicos, para orientar alunos, e para desenvolver novas colaborações com outros colegas que tenho conhecido mais recentemente.

Espero poder corresponder ao que esperam de mim, sendo que darei o meu melhor para que, através destas colaborações, possamos chegar mais longe na busca do conhecimento na área das doenças neurodegenerativas.

 

Publicado/editado: 23/12/2019