N(eur)ónios por Tiago Fleming Outeiro - Congresso Mundial de Parkinson: um encontro do outro lado do mundo

Eixos de Opinião de Junho de 2019

Tiago Fleming Outeiro - Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen (Ver +)


Título: Congresso Mundial de Parkinson: um encontro do outro lado do mundo

Este mês trago-vos notícias de um congresso onde estive recentemente, e de que vale a pena falar.

Por motivos profissionais, participo em muitos congressos, conferências, ou reuniões durante o ano. A maior parte destes eventos são científicos, onde discutimos os avanços que vamos fazendo na nossa investigação, porque é essencial irmos contando os nossos avanços e sabendo dos avanços dos colegas. Isto permite-nos trocar ideias, planear novas colaborações, e desenhar novos projectos de investigação. Como faço investigação fundamental, não costumo participar com tanta frequência em congressos de cariz mais clínico, onde se fala mais dos aspectos clínicos das doenças, como imaginavam. Algumas vezes, menos frequentes, participo em eventos que são planeados para os doentes, famílias, e cuidadores, onde tentamos explicar o que fazemos, os avanços que temos, e alertar para a necessidade de envolver estas pessoas no trabalho que fazemos. Mas este congresso onde participei no início de Junho, é um congresso especial. É um congresso que junta pessoas dos 3 lados: investigadores fundamentais, clínicos, e os doentes e cuidadores. 

Há 3 anos participei no mesmo congresso, em Portland, nos EUA, e este ano aconteceu em Kyoto, no Japão, do outro lado do mundo. Participei esta segunda vez porque fiquei extremamente impressionado com a participação e interesse de pessoas dos 3 lados, e achei que valia a pena voltar a participar.

Enquanto investigador, que estuda o lado mais básico por trás das doenças de Parkinson, Alzheimer, Huntington, os esclerose lateral amiotrófica, acabo por me afastar um pouco daquilo que é a realidade diária das pessoas que são directamente afectadas por estas doenças: os doentes e cuidadores. Nos estudos laboratoriais que fazemos, usamos modelos simples, onde tentamos reproduzir e estudar o que pretendemos. Mas não lidamos com frequência com os doentes. E este lado humano, real, e difícil, é muito importante para nos fazer ter bem presente que trabalhamos em problemas bem reais, urgentes, e que necessitam de solução.

Neste congresso tive a oportunidade de voltar a interagir com vários doentes de Parkinson, de perceber os seus problemas e dificuldades diárias, e de tentar pensar no que podemos estudar para os tentar ajudar. Mas tentei também falar-lhes com entusiasmo do trabalho que estamos a fazer, explicando-lhes o que fazemos e porque fazemos, para tentar deixar uma mensagem de esperança. 

Foi importante para mim ouvir sobre avanços recentes na área da reabilitação, da fisioterapia e exercício, dos sensores, da terapia da fala. Estas são áreas que têm evoluído muito pois são aquelas que podem ter um impacto mais imediato no dia a dia dos doentes. São áreas que aproveitam a tecnologia dos smartphones e dos sensores que nos rodeiam actualmente nas nossas vidas, e que informam depois os cuidadores e clínicos sobre as variações diárias dos doentes, ajudando-os a ajustar cuidados e mediação para melhorar a qualidade de vida dos doentes.

Em Portugal temos excelentes profissionais clínicos especializados na doença de Parkinson (médicos, fisioterapeutas, terapeutas da fala, etc), e que prestam os melhores cuidados aos nossos doentes. 

Este congresso mundial de doença de Parkinson voltou a marcar-me, voltou a fazer-me querer continuar a fazer mais e melhor o meu trabalho, por todos aqueles que precisam urgentemente de soluções.

 

Publicado/editado: 23/06/2019