À Distância por Daniel Folha


 


Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.


Daniel F. M. Folha - Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Saúde – Norte (ISCS-N), Coordenador de Projectos e Protocolos do CIENCEDUC – Educação para as Ciências (Departamento de Ciências do ISCS-N), Investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP)
 


Artigo de Outubro


Título: Um Universo ainda escuro


O universo está em expansão. E para surpresa de todos, a expansão do universo está a acelerar. Esta descoberta valeu aos astrofísicos Saul Perlmutter, Brian P. Schmidt e Adam G. Riess o prémio Nobel da Física 2011, anunciado no passado dia 4 de Outubro.


O modelo do Big Bang diz-nos que o universo está em expansão desde há cerca de 13,75 mil milhões de anos (a idade da Terra é de cerca de 4,5 mil milhões de anos). O modelo do Big Bang é uma consequência da aplicação ao universo da  teoria da relatividade geral, de Albert Eistein, e é sustentado por quatro pilares observacionais: as galáxias distantes afastam-se com velocidades que aumentam com o aumento da distância a que se encontram; a presença de um fundo de radiação cósmica, identificável para onde quer que se olhe no universo, e que representa uma marca de um tempo em que o universo era muito quente e denso; os valores das abundâncias no universo dos elementos leves, sobretudo do hidrogénio e hélio; a distribuição em larga escala das galáxias e sua evolução.


Apesar dos sólidos pilares em que se baseia a compreensão atual da estrutura e evolução do universo, a maior parte do que o constitui é ainda um mistério! Quando se faz um balanço da quantidade de matéria e energia existentes no universo chega-se a uma conclusão extraordinária: apenas 5% de toda a matéria e energia do universo se apresenta sob forma conhecida (protões, neutrões e eletrões, livres ou sob a forma de átomos e moléculas; radiação eletromagnética e neutrinos). A presença de matéria que não interage com a radiação eletromagnética, e por isso escura, é inferida através do seu efeito gravitacional na matéria visível. A matéria escura representa 23% da quantidade de matéria e energia existentes no universo. As contas são fáceis de fazer, e na contabilidade da matéria e energia ainda faltam cerca de 72%. Estes 72% são os responsáveis pela expansão acelerada do universo, e esta quantidade é designada por energia escura. O que são a matéria escura e a energia escura? Ainda ninguém realmente sabe.


O universo está sempre a surpreender-nos. A imagem que a ciência nos dá  do mundo que nos rodeia é sempre uma imagem incompleta desse mundo. É como um puzzle que vai sendo construído com base na experimentação, na observação e na construção de novas teorias e modelos que não só expliquem os resultados experimentais, mas que sejam também capazes de prever  o resultado de experiências e observações mesmo antes destas serem levadas a cabo.



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Artigo "À Distância" de Setembro - dia 13


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Publicado/editado: 13/10/2011