Bits&Bytes por Alexandre Trocado - As promessas da transição digital na educação
Eixos de Opinião de Abril de 2021
Alexandre Trocado - Professor de Matemática (Ver +)
Título: As promessas da transição digital na educação
Em 2017 num artigo a propósito do perfil do aluno do séc. XXI abordei o ensino de Matemática e a estagnação a que se encontra entregue. Mais tarde em novembro de 2019 parecendo adivinhar o período da educação à distância questionei sobre o cumprimentos do papel da educação na sociedade actual. Com a entrada das restrições pandémicas e dadas as dificuldades na implementação de uma modalidade de ensino à distância, foi apresentado a 21 de abril de 2020 um plano de acção para a transição digital na sociedade portuguesa.
Em particular, na educação, este plano foi apresentado com o objetivo central de colocar Portugal na linha da frente dos países mais preparados para enfrentar os desafios e mudanças inerentes a uma transição digital global. Entre objectivos anunciados foi possível destacar:
- Disponibilização de equipamento individual para utilização em contexto de aprendizagem;
- Garantia de conectividade móvel gratuita para todos os alunos, docentes e formadores do Sistema Nacional de Qualificações;
- Acesso a recursos digitais de qualidade;
- Definição de processos conducentes à realização e classificação eletrónica de provas de avaliação externa em ambiente digital.
De todos estes objetivos enunciados durante o primeiro confinamento de 2020 apenas foi possível constatar parcialmente a entrega de computadores a estudantes carenciados. No entanto, revelou-se insuficiente a tempo do segundo confinamento geral de janeiro de 2021.
Passado um ano da apresentação deste plano constatamos que a sua implementação foi praticamente inexistente. Mais um ano que passou na educação e as palavras escritas não se concretizaram em acções, em particular no ensino de Matemática, onde os objetivos da disciplina mantêm-se de acordo com o programa em vigor (desde 2015) alinhados com os dos anos 80 do século passado.
O uso da tecnologia é ainda escasso e o cálculo algébrico ocupa ainda um grande espaço em todas as aulas por este país fora. A resolução de problemas da sociedade actual, o ensino da estatística, análise de dados e o pensamento computacional são miragens para a educação em Portugal. Longe está também a definição de processos conducentes à realização e classificação eletrónica de provas de avaliação externa tais como provas de aferição e exames nacionais, algo que abordei em julho de 2019.
Após um ano da apresentação do programa de transição digital e em plena pandemia a educação continua na mesma ou melhor, quase na mesma, mas com as calculadoras em modo de exame.