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Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
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Se falarmos de Euros, dez dígitos é muito dinheiro! O menor número inteiro com dez dígitos é, claro está, 1000 milhões (ou o bilião da escala curta). E a que propósito vem este número? 1083 milhões de euros é o custo estimado para o E-ELT (European Extremely Large Telescope), um telescópio com um espelho segmentado de 39,3 m de diâmetro, o próximo grande projeto do Observatório Europeu do Sul (ESO), organização europeia de astronomia, da qual Portugal é membro efetivo. Telescópios com poder coletor desta ordem de grandeza são uma das grandes prioridades para a astronomia feita a partir do solo, permitindo alcançar enormes avanços no conhecimento acerca do universo e dos seus constituintes. Mais de 1000 milhões de Euros é o custo do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), um observatório em fase adiantada de construção, já em funcionamento parcial, pertencente a um consórcio formado por países europeus, através do ESO, pelos Estados Unidos da América, pelo Japão e pelo Chile, onde se situa o observatório. Enquanto o E-ELT irá operar nas janelas do visível e do infravermelho próximo do espectro eletromagnético, o ALMA observa o universo na região das micro-ondas. E se falarmos de telescópios espaciais, então os custos disparam: 1500 milhões de dólares foi o custo inicial do Telescópio Espacial Hubble (a preços de 1990), e cerca 8000 milhões de dólares é o custo de desenvolvimento e lançamento do Telescópio Espacial James Webb, o novo telescópio espacial, com inicio previsto de operações lá para 2018. Projetos como estes são vulgarmente denominados por “Big Science”. Um outro exemplo de um projeto “Big Science” é o Large Hadron Collider (LHC), do CERN, a organização europeia para a investigação nuclear, da qual Portugal também faz parte, recentemente nas notícias a propósito do bosão de Higgs, com um custo de 6500 milhões de euros.
Para além do retorno científico destes projetos, fim para o qual são construídos, há um retorno económico que, não sendo fácil de quantificar a priori, parece ser de grande importância. Logo à partida, temos injeção de dinheiro na economia real, onde milhares de milhões são sempre bem vindos! Mas há outros ganhos, e aparentemente nada desprezáveis. Citando um artigo de 2003 do CERN Courier, “Diversos estudos indicam a existência de ganhos significativos...cada euro investido na industria pela ‘Big Science’ gera um retorno de 2 a 4 vezes para o fornecedor.” Não parece mau! Um estudo levado a cabo pelo CERN, e descrito no mesmo artigo, revela diversos benefícios para um conjunto de firmas de base tecnológica que trabalham com aquela instituição científica: desenvolvimento de novos produtos, aprendizagem tecnológica e melhor desempenho tecnológico, novas unidades de negócio, abertura a novos mercados, aumento da visibilidade internacional, aumento de vendas. Muito interessante! E tudo isto com investimento em ciência fundamental. Parece que temos (Europa) aqui uma boa parte do necessário para sair da crise...
Boas férias!