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Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
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Crédito: ESO
Apesar do nome, as nebulosas planetárias nada têm a ver com planetas! Ao observar estes objetos pelo seu telescópio, quase no final do século XVIII, o astrónomo William Herschel, achou estas “pequenas” nebulosas algo parecidas com a imagem do planeta Úrano, por si observado por volta daquela altura, e daí o nome.
Na realidade, as nebulosas planetárias correspondem à fase final de evolução das estrelas de massa baixa e intermédia, quando estas perdem para o espaço interestelar uma boa parte do material que as constituía, e se transformam em anãs brancas. As anãs brancas são estrelas muito pequenas e muito quentes, de dimensões aproximadamente iguais às da Terra, mas com massa da ordem da massa do Sol!
São conhecidas algumas dezenas de nebulosas planetárias. Na imagem acima apresenta-se a Nebulosa da Hélice, a nebulosa planetária mais próxima de nós, situada a cerca de 700 anos-luz de distância, na direção da constelação do aquário. Dadas as velocidades observadas para o gás em expansão, estima-se que a nebulosa tenha cerca de 12000 anos de idade. Imagens de grande formato da Nebulosa da Hélice, incluindo uma versão ampliável (zoomable), encontram-se em aqui.
É interessante observar a região central da Nebulosa da Hélice em mais detalhe. Por lá encontramos um conjunto de estruturas filamentares, que apontam na direção radial, com as extremidades mais brilhantes mais próximas da anã branca. Cada uma destas regiões mais brilhantes tem tamanho aproximadamente igual ao tamanho do Sistema Solar! Vemos também objetos nebulosos alongados segundo direções aleatórias e com um núcleo brilhante. Estes objetos, por sua vez, não estão relacionados com a nebulosa planetária, são galáxias muito longínquas, observadas através do gás difuso, de cor azulada, da nebulosa planetária.
Crédito: ESO
Daqui a cerca de 5000 milhões de anos, o Sol terminará os seus dias de estrela “pacata”. Inicialmente crescerá de tamanho transformando-se numa estrela gigante vermelha, que engolirá os planetas Mercúrio, Vénus e provavelmente também a Terra. Após mais algumas transformações, na fase final da sua evolução como estrela, restará do Sol o seu núcleo quente, ou seja uma estrela anã branca, e à sua volta uma nebulosa planetária. Nessa altura, perdidos no tempo estarão os dias em que astrónomos da Terra observavam os céus, e renovado estará o meio interestelar, eventualmente preparando-se para a formação de novas estrelas, de novos planetas, quiçá de nova Vida...