À Distância por Daniel Folha



 


Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
Daniel F. M. Folha - Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Saúde – Norte (ISCS-N), Coordenador de Projectos e Protocolos do CIENCEDUC – Educação para as Ciências (Departamento de Ciências do ISCS-N), Investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP)
 


Artigo de Fevereiro


Título: poluição luminosa


Num texto acerca de planetários, um colega escreveu com toda a propriedade “...os planetários são hoje os únicos locais dentro das cidades onde é possível observar o “céu” repleto de “estrelas”.” É claro que estamos a falar de um céu artificial e de estrelas artificiais! Ao ler esta frase vieram-me imediatamente à memória as imagens da Terra à noite, obtidas do espaço. Uma dessas imagens, obtida a partir da Estação Espacial Internacional (ISS), mostra a Península Ibérica no dia 4 de Dezembro de 2011 e poder ser vista em http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=76777. Uma imagem completa da Terra à noite está disponível em http://apod.nasa.gov/apod/ap040822.html, e um vídeo em http://www.koshland-science-museum.org/exhib_lightsatnight/index.jsp. Estas imagens são muito bonitas e interessantes, e mostram-nos, também, a dimensão de um problema ao qual poucos prestam alguma atenção: a poluição luminosa. É verdade, a luz também polui! Polui impedindo a observação do céu noturno. Polui pelo seu impacto biológico. Polui porque corresponde a um enorme desperdício de energia, recursos e dinheiro.

Quando olhamos para o céu noturno por cima de uma cidade, mesmo numa noite límpida, o número de estrelas visíveis é muito limitado. A atmosfera é iluminada pelas luzes da cidade e muitas estrelas tornam-se invisíveis pois o seu brilho perde-se no brilho adquirido pelo próprio céu. O fenómeno é semelhante ao que nos impede de ver durante o dia outras estrelas que não o Sol, sendo que neste caso é a luz solar a responsável pela iluminação da atmosfera.

Controlar a poluição luminosa implica menos iluminação? Implica sobretudo melhor iluminação. Senão vejamos. Eu moro num 10º andar, que deve estar pelo menos 30 metros acima do nível da rua. Olho de cima para todos os candeeiros de iluminação publica da minha vizinhança, mas luz deles proveniente entra-me pela casa a dentro! A luz desses candeeiros não deveria servir apenas para iluminar a via pública? Claro que devia, mas uma grande parte da luz dos candeeiros é emitida para cima, em direção ao céu, e por isso totalmente desperdiçada.

O céu noturno é património natural e cultural de todos. Não deve ser desconsiderado abusivamente, e muito menos com recurso a dinheiro dos nossos impostos!


P.S. Muita informação relativa à preservação e proteção do céu noturno pode ser encontrada online em http://www.darkskiesawareness.org, no âmbito do Ano Internacional da Astronomia (2009).

 



Todos os meses, no dia 13 de cada mês:

Artigo "À Distância" de Dezembro - Planetas ao Anoitecer


Artigo "À Distância" de Novembro - Mudança da Hora


Artigo "À Distância" de Outubro - dia 13


Artigo "À Distância" de Setembro - dia 13


Artigo "À Distância" de julho - dia 13


Artigo "À Distância" de junho - dia 13


Artigo "À Distância" de maio - dia 13

 

Artigo "À Distância" de abril - dia 13


Artigo "À Distância" de março - dia 13


Artigo "À Distância" de fevereiro - dia 13


Artigo "À Distância" de Janeiro - dia 13

Publicado/editado: 12/02/2012