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Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
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Olhando
para o céu longe da poluição luminosa das cidades vemos uma faixa de luz difusa
que se estende de horizonte a horizonte. Conhecida popularmente, cá pelas
nossas bandas, como Caminho de Santiago, essa faixa esbranquiçada é o disco
galáctico, uma estrutura importante da nossa galáxia.
A
Via Láctea é uma galáxia espiral barrada, sendo constituída por um disco
achatado que contém os braços em espiral (o disco galáctico), por uma região central mais espessa e
alongada em forma de barra, e por um halo. O Sistema Solar situa-se no disco
galáctico a cerca de 27 mil anos-luz do centro da galáxia. O leitor pode
encontrar vários diagramas relativos à estrutura da Via Láctea.
Situado
na direção da constelação de sagitário, o coração da Via Láctea é obscurecido
pela presença de enormes quantidades de gás e poeira que permeiam o disco
galáctico formando um véu opaco à passagem da luz visível. Utilizando câmaras especializadas,
sensíveis à radiação infravermelha e colocadas em telescópios que empregam
tecnologia de ponta, é possível levantar este véu e observar o que se encontra
próximo do centro galáctico e do hipotético buraco negro supermassivo, que
durante décadas se suspeitou ocupar posição central no coração da galáxia. Ali
encontram-se densos enxames de estrelas, algumas delas muito jovens, com apenas
alguns milhões de anos de idade, e massa elevadíssima (superior a 100 vezes a
massa do Sol).
Podemos
imaginar uma viagem que nos “transporta” até próximo do coração da Via Láctea
através da animação disponível nas páginas do Observatório Europeu do Sul (ESO). Note o leitor, que as regiões
escuras não são áreas do céu desprovidas de estrelas, mas antes regiões de gás
e poeiras que impedem a passagem da luz visível.
As imagens de estrelas nas proximidades do centro galáctico, e em particular os seus movimentos, permitiram estimar a massa do objeto invisível responsável pelas órbitas observadas: mais de dois milhões de massas solares num volume de espaço tal que só pode significar uma coisa: a confirmação da existência de um buraco negro supermassivo no coração da Via Láctea.