À Distância por Daniel Folha



  


Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico. 
Daniel F. M. Folha - Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Saúde – Norte (ISCS-N), Coordenador de Projectos e Protocolos do CIENCEDUC – Educação para as Ciências (Departamento de Ciências do ISCS-N), Investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) 
  


Artigo de Maio

Título: O Coração da Via Láctea


Olhando para o céu longe da poluição luminosa das cidades vemos uma faixa de luz difusa que se estende de horizonte a horizonte. Conhecida popularmente, cá pelas nossas bandas, como Caminho de Santiago, essa faixa esbranquiçada é o disco galáctico, uma estrutura importante da nossa galáxia.

A Via Láctea é uma galáxia espiral barrada, sendo constituída por um disco achatado que contém os braços em espiral (o disco galáctico),  por uma região central mais espessa e alongada em forma de barra, e por um halo. O Sistema Solar situa-se no disco galáctico a cerca de 27 mil anos-luz do centro da galáxia. O leitor pode encontrar vários diagramas relativos à estrutura da Via Láctea.

Situado na direção da constelação de sagitário, o coração da Via Láctea é obscurecido pela presença de enormes quantidades de gás e poeira que permeiam o disco galáctico formando um véu opaco à passagem da luz visível. Utilizando câmaras especializadas, sensíveis à radiação infravermelha e colocadas em telescópios que empregam tecnologia de ponta, é possível levantar este véu e observar o que se encontra próximo do centro galáctico e do hipotético buraco negro supermassivo, que durante décadas se suspeitou ocupar posição central no coração da galáxia. Ali encontram-se densos enxames de estrelas, algumas delas muito jovens, com apenas alguns milhões de anos de idade, e massa elevadíssima (superior a 100 vezes a massa do Sol).

Podemos imaginar uma viagem que nos “transporta” até próximo do coração da Via Láctea através da animação disponível nas páginas do Observatório Europeu do Sul (ESO). Note o leitor, que as regiões escuras não são áreas do céu desprovidas de estrelas, mas antes regiões de gás e poeiras que impedem a passagem da luz visível.

As imagens de estrelas nas proximidades do centro galáctico, e em particular os seus movimentos, permitiram estimar a massa do objeto invisível responsável pelas órbitas observadas: mais de dois milhões de massas solares num volume de espaço tal que só pode significar uma coisa: a confirmação da existência de um buraco negro supermassivo no coração da Via Láctea.

 



Todos os meses, no dia 13 de cada mês:

   

Artigo "À Distância" de Dezembro "Planetas ao Anoitecer" - dia 13


Artigo "À Distância" de Novembro "Mudança da Hora" -  Dia 13"                 


Artigo "À Distância" de Outubro "Um universo ainda mais escuro" - dia 13


Artigo "À Distância" de Setembro "ainda navegamos pelas estrelas"- dia 13


Artigo "À Distância" de julho "À distância...dos exoplanetas" - dia 13


Artigo "À Distância" de junho "À distância...das estações do ano no sistema solar"- dia 13


Artigo "À Distância" de maio "À distância...de um Universo jovem - dia 13

 

Artigo "À Distância" de abril "À distância...das Distâncias" - dia 13


Artigo "À Distância" de março "À distância...das estrelas" - dia 13


Artigo "À Distância" de fevereiro "À distância... dos telescópios" - dia 13


Artigo "À Distância" de Janeiro "À distância...da Luz"- dia 13





Publicado/editado: 13/05/2012