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Todos os meses, no
dia 1, Miguel Abreu, Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática,
escreve as suas "(Di)visões" sobre o mundo que o rodeia. Estes artigos
poderão ter uma componente matemática, mas serão essencialmente uma
opinião sobre os mais variados aspectos da sociedade: ciência, política,
desporto, ensino entre outros assuntos.
Miguel Abreu - Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática
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Os rankings 2011 das escolas do ensino básico e secundário foram divulgados no passado dia 15 de Outubro. Elaborados com base nos resultados dos exames nacionais, são frequentemente criticados por usarem apenas uma parte do trabalho que é feito nas escolas e não terem em conta o contexto socioeconómico dos seus alunos. Apesar de encontrar algum fundamento nestas críticas, há quanto a mim razões suficientes para justificar a divulgação anual desta informação:
1) Permite verificar o progresso ou retrocesso de cada escola ao longo dos últimos 10 anos.
2) Inclui as médias das classificações internas, o que, em conjunto com as médias das notas dos exames nacionais, possibilita uma avaliação mais ampla e justa da qualidade do trabalho de cada escola.
Relativamente a 2), considero muito útil comparar o ranking de escolas ordenado por média dos resultados dos exames, com um ranking de escolas ordenado pela diferença entre a média dos resultados dos exames e a média das classificações internas. O primeiro, a que chamaremos Ranking A, é o que tem sido anualmente publicado e amplamente discutido na comunicação social. O segundo, que designaremos por Ranking B, tem por base um indicador que deve ser, em princípio, independente do contexto socioeconómico de cada escola.
Se usarmos a informação disponível no site do Expresso relativa ao ensino secundário em escolas com pelo menos 100 exames em 2011, temos por exemplo o seguinte:
i) As 10 primeiras escolas do Ranking A são privadas e nas 20 primeiras há apenas uma pública.
ii) Nas 20 primeiras escolas do Ranking B há 6 escolas públicas, com 3 nas 10 primeiras.
iii) Fazendo um Ranking B das 100 primeiras escolas do Ranking A, onde 40 são privadas e 60 são públicas, temos que tanto os 5 primeiros como os 5 últimos lugares são ocupados por escolas privadas.
Apesar desta análise ser necessariamente superficial, indica de forma clara que a comparação entre escolas privadas e públicas tem resultados diferentes consoante o ranking que se considera. Os dados disponíveis permitem também fazer análises deste tipo para cada disciplina separadamente. Por exemplo, em Matemática A os resultados que se obtêm são muito semelhantes a estes globais.
Se é certo que os rankings não dizem tudo, também é verdade que contêm informação relevante para avaliar o trabalho que está a ser feito em cada escola. Isso é razão suficiente para justificar a sua divulgação anual.