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Todos os meses, no dia 1, Miguel Abreu, Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, escreve as suas "(Di)visões" sobre o mundo que o rodeia. Estes artigos poderão ter uma componente matemática, mas serão essencialmente uma opinião sobre os mais variados aspectos da sociedade: ciência, política, desporto, ensino entre outros assuntos.
Miguel Abreu - Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática
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Há pouco mais de uma semana tive a oportunidade de participar num painel do ProfMat, encontro anual de professores de matemática organizado pela APM e que decorreu este ano em Albufeira de 21 a 23 de Março. O tema do painel era "Aprender Matemática: porquê e para quê?". Há certamente muitas formas de abordar esta questão. A que escolhi acabou por me levar à seguinte resposta: A razão primordial para se proporcionar uma educação matemática prolongada a todas as crianças e jovens é de natureza energética.
Há felizmente muitas outras boas razões, tanto de natureza cultural como formativa. Mas se me pedirem para indicar apenas uma, que justifique a ênfase generalizada que é dada à matemática no ensino estruturado obrigatório de todas as crianças e jovens em todos os países do mundo, será esta a minha resposta. Está relacionada com uma frase que ouvi há anos na excelente série de programas televisivos "Life by the Numbers", produzida em 1996 pela PBS norte-americana: “Enquanto que a energia da sociedade industrial são os combustiveis fósseis (petróleo, carvão, gás, etc), a energia da sociedade do conhecimento é a matemática. Para criarmos conhecimento queimamos matemática.” Deixem-me referir dois eventos deste último mês que me fizeram recordar e querer reforçar esta afirmação, que é hoje ainda mais relevante do que já era há 15 anos.
No fim de semana anterior ao ProfMat estive na cerimónia de entrega de prémios da final nacional das Olimpíadas Portuguesas de Matemática, também em Albufeira. Como de costume, o programa incluiu uma palestra que este ano foi dada pelo Eng. António Murta da Pathena. Com o título "Eu e a Matemática", mostrou como ele queimou e está a sempre a queimar matemática na sua multifacetada vida profissional. Deu também como exemplo o metro de Londres, que está constantemente a queimar matemática produzida em Portugal pela empresa Siscog, que faz todos os horários de comboios e pessoal, tanto a nível de planeamento como de contingência.
Logo a seguir ao ProfMat, assisti na Gulbenkian à Pedro Nunes Lecture que decorreu no âmbito da conferência internacional Mathematics of Energy and Climate Change, organizada pelo CIM e integrada nas atividades da Matemática do Planeta Terra 2013. O título da palestra, dada por Richard James (Univ. do Minnesota, EUA), é elucidativo: "Novos métodos para a conversão de calor em eletricidade sugeridos por geometria".
Sempre que ensinamos ou aprendemos matemática estamos a produzir energia. É absolutamente fundamental que o façamos bem, com frequência e ao longo de muito tempo.