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Todos os meses, no
dia 1, Miguel Abreu, Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática,
escreve as suas "(Di)visões" sobre o mundo que o rodeia. Estes artigos
poderão ter uma componente matemática, mas serão essencialmente uma
opinião sobre os mais variados aspectos da sociedade: ciência, política,
desporto, ensino entre outros assuntos.
Miguel Abreu - Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática
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Tendo tido a oportunidade de dar uma palestra no evento TEDxISTTagus, que decorreu no passado dia 22 de Janeiro, falei sobre algumas ideias que considero fundamentais para o ensino básico em Portugal e que gostaria de partilhar aqui convosco.
1. Ser professor do 1º e 2º ciclo tem que ser uma profissão muito mais exigente e prestigiada do que é atualmente.
2. Todos os alunos, em especial os que têm menos motivação e mais dificuldade, devem conseguir ter uma média de 90% nos testes do 1º e 2º ciclo.
3. Têm que existir mecanismos que permitam desenvolver todas as potencialidades dos alunos com mais motivação e talento.
4. As famílias têm que saber o que as suas crianças estão a aprender no 1º e 2º ciclo e treinar regularmente com elas essas matérias.
5. Não pode ser permitido o uso de máquina de calcular nas provas nacionais de matemática de todo o ensino básico.
Havendo muito a dizer sobre cada um destes pontos, aproveito o espaço que tenho neste Divisões para deixar apenas mais uma referência sobre cada um.
1. Enquanto que em Portugal ser professor de 1º ou 2º ciclo não é normalmente uma
primeira escolha, na Finlândia "ser professor primário é tão prestigiado como ser médico ou advogado: os pais querem que os filhos sejam professores primários e, quando perguntam aos miúdos que acabaram o secundário que carreira querem seguir, a profissão surge nos dois primeiros lugares. E muitos dos que têm essa ambição não a conseguem alcançar, porque é muito difícil entrar para o curso."
[Jouni Välijärvi, director do Instituto Finlandês para a Investigação em Educação, Universidade de Jyväskylä, no Público de 1 de Maio de 2011.]
2. Ter 70% a Matemática no 1º ciclo significa conseguir resolver corretamente apenas cerca de 50% dos problemas que envolvam dois tópicos dessas matérias, cerca de 30% dos problemas que envolvam três desses tópicos, ... . Assim, não é de espantar que em 2011, no exame de Matemática do 9º ano, cerca de um terço dos alunos (30.000 em 90.000) tenha tido um resultado inferior a 30%.
3. Leiam o que escrevi sobre isto no Divisões de Março de 2011.
4. O nosso atraso cultural nesta matéria é muito grande. O “Matemática em Família” do Divisões de Dezembro de 2011 pode ser muito útil.
5. Falo disto com frequência e, ao contrário dos pontos anteriores, é fácil de implementar. É muito positivo que a nova Prova Final de Matemática do 2ºciclo tenha uma parte significativa sem máquina de calcular.
Tendo em conta os pontos 2 e 4, termino com um conselho para todos os familiares de crianças a frequentar o 1º ou 2º ciclo: não descansem nem fiquem demasiado satisfeitos
com notas de 70 ou mesmo 80 por cento, porque o nível médio necessário nestes dois primeiros ciclos de estudo é 90 por cento.